Análise: sem entender do assunto, Bolsonaro se segura na economia
Governo tem reconhecimento do mercado e de parcela da população, exatamente, na área terceirizada pelo presidente ao “Posto Ipiranga”
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chega ao final do primeiro ano de mandato em uma situação curiosa. Pela percepção do mercado, e de seus seguidores mais entusiasmados, o governo vai bem na condução da economia, assunto sobre o qual o capitão não entende.
Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro manifesta seu desconhecimento a respeito do tema. Delegou o assunto ao hoje ministro da Economia, Paulo Guedes, apelidado de Posto Ipiranga.
Na prática, viu-se que era verdade. Maior feito do governo nesta área, a aprovação da reforma da previdência foi mérito de Guedes e, principalmente, do Congresso.
A maior contribuição de Bolsonaro em relação às aposentadorias e pensões foi assegurar vantagens para as carreiras militares. As comemorações do mercado em relação à previdência, evidentemente, nada têm a ver com esse movimento do presidente.
Mesmo assim, apesar do otimismo de alguns setores, as melhoras na economia ainda são tênues. O nível de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, mantém-se no nível do antecessor no Planalto, Michel Temer, responsável por tirar o país da recessão.
Os governistas também aplaudem a queda nos índices de violência. Embora significativa, a tendência de redução nesses números vem da administração anterior e tem mais a ver com os governos estaduais do que com o federal.
Neste rápido balanço, convém ressaltar que, nas questões éticas – bastante exploradas na campanha –, Bolsonaro chega ao final do primeiro ano com a imagem desgastada pelos rolos do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e do amigo Fabrício Queiroz. Embora nenhuma denúncia tenha atingido o governo, o envolvimento do “Zero Um” com “rachadinhas” e milícias tira a legitimidade do discurso moralista.
A depender da evolução das investigações, o possível entrelaçamento da família com o submundo de crimes pode desestabilizar o presidente e atrapalhar o desempenho do governo. Até quem não entende de economia sabe desse risco.