Análise: se tivesse exame para ministro, Ricardo Vélez seria reprovado
Titular da Educação dá mau exemplo ao afrontar a lei para divulgar discurso de Bolsonaro e fazer confronto ideológico nas escolas
atualizado
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O ministro da Educação, Ricardo Vélez, comete erros em demasia para o cargo que ocupa. Se os atos que pratica fossem provas escolares, pode-se dizer, ele seria reprovado tanto nos exames escritos quanto nos orais.
A falta de proficiência de Vélez com os assuntos de sua pasta ficou evidente, por exemplo, na carta que enviou às escolas nessa segunda-feira (25/2). No texto, o ministro pede que os alunos leiam uma mensagem que termina com o slogan de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A mesma mensagem pede que os estudantes sejam filmados enquanto cantam o Hino Nacional e um deles declame a mensagem de Vélez. Em vez de anunciar uma orientação acadêmica, a carta distribuída para todo o país representa uma provocação a pais, alunos e professores.
Em nenhuma hipótese é razoável que um ministro da Educação descumpra a lei para bajular o chefe. Incluir o slogan “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos” em uma atividade escolar afronta o artigo 37 da Constituição, que zela pela impessoalidade dos atos praticados pelas autoridades.
Mesmo quando o conteúdo tem sentido, o ministro erra na forma. A execução do Hino Nacional faz parte da tradição educacional brasileira e, em princípio, não deve despertar resistência nas salas de aula. Mas misturar essa prática com slogan de campanha é improbidade administrativa. Trata-se, sem dúvida, de um mau exemplo dado por um educador.
Imprudente quando escreve sobre educação, Vélez também demonstra não fazer o dever de casa ao falar sobre assuntos gerais. Em entrevista concedida à revista Veja, ele disse que os brasileiros se comportam como “canibais” e roubam assentos de aviões quando viajam para outros países.
Assim como no caso do slogan, o ministro teve de voltar atrás nessas declarações e reconhecer que foram equivocadas. Sem parâmetros nos atos e nas palavras, ele parece cair na tentação fácil de usar o cargo para fazer debate ideológico.
Se é essa a intenção de Vélez, trata-se de pessoa inadequada para promover o salto necessário na educação brasileira. A estratégia do confronto pode até atender à necessidade de agradar ao chefe, mas inviabiliza o consenso essencial para o envolvimento da sociedade na busca de soluções para as graves distorções do setor.
Recorrer a ilegalidades para impor seus pontos de vista torna o comportamento do ministro ainda mais condenável. Para fazer uma comparação: caso tivesse iniciado o ano letivo como aluno, Vélez teria sido reprovado no primeiro bimestre. Para usar uma gíria antiga: se continuar assim, Vélez vai tomar bomba.