Análise: pesquisa Datafolha expõe os riscos da estratégia de Lula
Crescimento de Bolsonaro na reta final do primeiro turno desafia campanha de Haddad, vinculada à imagem do ex-presidente petista
atualizado
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A pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha nessa terça-feira (2/10) expõe o risco da estratégia traçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a eleição presidencial de 2018. O crescimento de Jair Bolsonaro (PSL) na reta final da campanha de primeiro turno revela o grau de dificuldade encontrado pelo PT para levar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ao Palácio do Planalto.
Assim como uma eventual vitória do petista será creditada à popularidade de Lula, uma hipotética derrota também terá a marca do ex-presidente. Na prática, a eleição presidencial se transformou em uma disputa entre o lulismo e o antipetismo. Os últimos números do Datafolha evidenciam os perigos do caminho tomado pela campanha do PT.
Em quatro dias, Bolsonaro subiu de 28% para 32% nas intenções de voto. No mesmo período, Haddad oscilou para baixo, de 22% para 21%. Nas simulações para o segundo turno, dentro da margem de erro, houve inversão de posições. O candidato do PSL cresceu de 39% para 44%, enquanto o petista recuou de 45% para 42%.
A reversão de expectativas para o PT fica mais evidente quando se leva em conta os resultados do Datafolha do dia 22 de agosto. Nessa pesquisa, Lula liderava a corrida presidencial com 39%. Bolsonaro tinha 19%. No segundo turno, o petista vencia Bolsonaro por 52% a 32%.
Estratégia estagnada
Condenado em janeiro de 2018 por corrução e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Lula se encontra desde então inelegível em razão da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, ele manteve a candidatura ao Planalto até meados de setembro, limite do prazo para a definição dos concorrentes.
Inflado pelo desempenho nas pesquisas depois de sua prisão em abril, o ex-presidente pôs em prática o plano de transferir seu potencial eleitoral para Haddad. Nas primeiras semanas, a estratégia se mostrou eficaz. Em pouco mais de um mês, o ex-prefeito se tornou conhecido como o candidato de Lula e ultrapassou o patamar de 20% dos votos.
Nos últimos dias, porém, Haddad estagnou nessa faixa e Bolsonaro continuou crescendo na preferência dos eleitores até chegar aos 32%. Outro dado preocupante para o ex-prefeito é o aumento da rejeição ao seu nome. Em quatro dias, o percentual de eleitores que se recusa a votar nele saltou de 32% para 41%.
Crescimento, apesar de ex e #EleNão
Chama atenção o fato de que a consolidação do candidato do PSL na ponta da disputa presidencial ocorra em um período de exposição negativa de seu nome. A edição da semana passada da revista Veja divulgou os detalhes da separação de Bolsonaro de sua ex-mulher Ana Cristina Valle em 2008.
No processo, ela acusa o ex-marido de ocultar patrimônio, furtar o conteúdo de um cofre e de ter comportamento violento. Outro fato contra Bolsonaro foram os protestos com o mote “ele não” que levaram multidões de mulheres a ocuparem as ruas e praças em todo o país no sábado (29/9).
A negativa de Ana Lúcia em relação às acusações da época da separação e as manifestações em favor do candidato do PSL no domingo (30) reduziram o impacto desses fatos. Em vez de se desgastar com os eleitores, o ex-capitão conquistou mais alguns pontos nas pesquisas. Os adversários permaneceram sem alterações significativas na preferência dos brasileiros.
Líder máximo do PT desde a criação do partido, Lula usou o prestígio interno para atrelar a campanha presidencial à sua imagem, mesmo preso em Curitiba (PR). As próximas semanas vão mostrar se o ex-presidente comandará a quinta vitória consecutiva nas disputas pelo Planalto ou se amargará um fracasso retumbante.