Análise: navios do Irã no Paraná jogam Bolsonaro contra ruralistas
Impasse em torno do embargo dos EUA ao país do Oriente Médio prejudica os produtores brasileiros de milho, aliados do presidente na eleição
atualizado
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Os ruralistas estão entre os segmentos da população que apoiaram com mais entusiasmo a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Em consequência, esperam apoio do governo aos interesses da categoria. O impasse em torno dos navios do Irã atracados no porto de Paranaguá (PR) ameaça estremecer a relação.
Nesse episódio, o alinhamento de Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prejudica os produtores de milho. As duas embarcações estão paradas no litoral paranaense à espera de combustível para levar as cargas de grãos para o país persa.
Para atender ao embargo dos EUA ao Irã, motivado por divergências em torno da política nuclear, o governo brasileiro resiste a autorizar o abastecimento dos navios pela Petrobras. Com isso, o milho fica encalhado no país e provoca prejuízos para os fazendeiros.
Mais que isso, por causa desse episódio, o Irã ameaça suspender todas as importações do produto. O país compra um terço de todo o milho exportado pelo Brasil. Isso significa que foram vendidas ao país do Oriente Médio 6,4 milhões das 22 milhões de toneladas do grão vendidas no mercado internacional em 2018.
Interromper esse fluxo, por si só, representa uma quebra significativa para os ruralistas. Mas a projeção da postura de Bolsonaro, se mantida, aponta para estragos ainda mais preocupantes. A simples retenção dos navios, até agora, causou uma queda de 10% nos preços do milho.
A conta negativa tende a provocar um desarranjo de grandes proporções para os plantadores milho e para toda a cadeia econômica do setor. Na perspectiva de manutenção do embargo ao Irã, o efeito cascata dessa política afetará o agronegócio brasileiro por longo período.
Diante dos prejuízos, os grupos de pressão do setor agem para o governo mudar de posição. O caso está no Supremo Tribunal Federal (STF). A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, opinou contrariamente ao abastecimento dos navios.
As primeiras dúvidas sobre as consequências do estilo Bolsonaro para o agronegócio surgiram ainda em 2018, depois da eleição e antes da posse.
A bancada ruralista no Congresso e as entidades de classe que representam a categoria usam a proximidade com Bolsonaro para tentar demovê-lo de adotar a reciprocidade automática com os Estados Unidos em relação ao embargo. Essa é uma decisão política que depende da capacidade de costura do presidente para buscar uma saída no STF que estanque os prejuízos dos plantadores de milho.
Pela aliança construída durante a campanha eleitoral, os fazendeiros esperam que, se deve haver reciprocidade, que seja com o setor que o apoiou contra o candidato do PT, Fernando Haddad.