Análise: governo exalta economia e patina no resto. Vale a pena?
Temos que nos contentar em sermos moderninhos economicamente ao mesmo tempo em que, em outros setores, regredimos à Idade Média?
atualizado
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O governo Jair Bolsonaro encerra 2019 repetindo o refrão de que o país foi tirado do atraso, do recesso e conquistou relevantes avanços na economia.
A equipe econômica do ministro Paulo Guedes jacta-se que o Brasil finalmente retomou a via do desenvolvimento, caminhando a passos largos para se posicionar ao lado das grandes potências mundiais.
Para ilustrar tal avanço, elenca números: inflação de 3,7%; índice da bolsa de valores recorde acima dos 117 mil pontos; juros (taxa Selic) de 4,5%, no menor patamar da história; Risco Brasil de 100,89 pontos, o menor dos últimos 7 anos; PIB aumentando em 0,6%; e por aí vai.
Se são dados positivos, é natural que o Palácio do Planalto os exiba em letras garrafais e trombeteie conquistas como a reforma da Previdência como panaceia para todos os males do Brasil.
Não se trata de entrar no mérito dos números. Ou mesmo de contestá-los, como fez o Financial Times, uma das principais publicações econômicas em todo o mundo, que pôs sob suspeição os cálculos que apontaram o crescimento do PIB nacional.
Caminho certo?
Trata-se de questionar: diante de tantos retrocessos, vale a pena almejar um lugar na vitrine dos gigantes econômicos? É plausível dizer que o Brasil, como um todo, está no caminho certo?
Sim, uma economia forte significa produção de bens e serviços, propiciando emprego, melhor distribuição de renda e, consequentemente, desenvolvimento.
Mas uma sociedade não se sustenta apenas na base da economia anabolizada. Há outras áreas que são pilares democráticos, e, neste quesito, o governo Bolsonaro patinou.
A cultura, os direitos humanos, as universidades, os indígenas, o laicismo, o meio ambiente, a liberdade de expressão, as instituições, os LGBT e outras minorias. São apenas alguns dos alvos do viés autoritário demonstrado pelo governo e fortemente amplificado pela militância virtual do capitão.
Apologia à tortura
Isso sem falar da apologia à tortura e a ditadores, violência como forma de responder à violência, truculência, desqualificação de adversários etc.
Se o governo tem o que oferecer a investidores – nacionais e estrangeiros -, ótimo. Isso é salutar para uma nação. Mas que não dê de ombros para outros valores tão caros.
Afinal, seria pedir muito que o país avance em todas as direções?
Ou temos que nos contentar em sermos moderninhos economicamente ao mesmo tempo em que, em outros setores, regredimos à Idade Média? Vale mesmo a pena?