Análise: gastos do Senado afrontam situação das contas públicas
Despesas com cartão corporativo demonstram sentimento de propriedade sobre o orçamento oficial por parte de congressistas e servidores
atualizado
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Alguns setores do serviço público parecem habitar um mundo paralelo, onde não falta dinheiro, enquanto o país acumula déficits fiscais. No Senado, por exemplo, sobram verbas para o consumo de parlamentares e altos funcionários.
Nos últimos dias, o Metrópoles detalhou como se dá parte do desperdício nos gastos de recursos públicos. Reportagem publicada no domingo (17/2) revelou o uso de cartões corporativos para compras indevidas de produtos para os senadores.
Embora os valores pareçam pouco significativos diante dos orçamentos dos Três Poderes, causa espanto a ausência de noção de parlamentares e servidores sobre a destinação do dinheiro proveniente dos impostos pagos pelos brasileiros. Coisa de quem não precisa levar a mão ao bolso para comprar o que bem entende.
Faltou bom senso, por exemplo, ao secretário-geral da Mesa Diretora do Senado, Luiz Fernando Bandeira, e à diretora Ludmila Fernandes de Miranda Castro quando decidiram pagar suplementos alimentares para esportistas com cartão corporativo. Esses gastos, registre-se, foram ressarcidos depois de identificados por uma auditoria.
Só a sensação de propriedade sobre o cofre do Parlamento permite uma situação dessas. Depois da divulgação do caso, a presidência do Senado abriu apuração a respeito do uso indevido de cartões corporativos.
Antes, no dia 10 de fevereiro, o Metrópoles divulgou as despesas feitas nos últimos quatro anos, com cartão corporativo, pelo mordomo da residência oficial do presidente do Senado. No período, R$ 719.270,84 foram dispendidos no custeio da mansão. Pelo valor, pode-se concluir que o titular da casa e seus convidados comem e bebem muito bem.
Importante lembrar que cabe aos parlamentares a tarefa de aprovar os orçamentos dos Três Poderes. Também serão eles os responsáveis por apreciar as propostas do governo para o reequilíbrio das contas públicas, como a reforma da Previdência.
De autoridades com tamanha responsabilidade, o mínimo que se espera é sensatez nos critérios para o estabelecimento das receitas e das despesas públicas. Os exemplos dados pelo Senado demonstram que esse artigo está em falta entre congressistas.