Análise: esquerda radical só existe nos delírios de Eduardo
Filho do presidente cria inimigos imaginários para tentar justificar medidas autoritárias caso manifestações tomem as ruas do país
atualizado
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O líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), procura motivos para uma guinada autoritária do governo. Nascido em 1984, último ano da ditadura, o deputado por São Paulo atua contra a democracia.
No último lance ao arrepio da Constituição, o filho “Zero 3” do presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que, se a esquerda “radicalizar”, a resposta pode ser “um novo AI-5”. Foi uma referência ao Ato Institucional nº 5, pacote de leis de exceção baixado em 1968 pelos militares para tirar direitos da sociedade e facilitar a perseguição sangrenta aos adversários.
Só mesmo na cabeça de Eduardo existe uma esquerda radical no Brasil. Desde o desmantelamento das organizações que pegaram em armas para lutar contra o regime fardado, não se tem notícia do surgimento de qualquer movimento do campo comunista ou socialista que tenha atentado contra as instituições nacionais.
Nem mesmo nos 14 anos que partidos de esquerda governaram o Brasil, entre 2003 e 2016, notou-se a presença de radicais desse campo político. As propriedades privadas foram respeitadas, as igrejas funcionaram com toda liberdade e o sistema financeiro permaneceu intacto. Também não houve estatização de empresas, como se deu na Venezuela e na Bolívia. Não se viu extrema-esquerda.
A declaração sobre o AI-5 foi dada em entrevista para a jornalista Leda Nagle, publicada nesta quinta-feira em um canal no YouTube. Eduardo abordou o tema ao falar sobre influências no Brasil das manifestações contra o governo do Chile. Teme que o povo tome as ruas brasileiras contra o governo Bolsonaro.
Engajado em um projeto de liderança da direita mundial, Eduardo tenta criar um inimigo de perfil contrário para justificar medidas que concentrem poder no seu pai. Sem extrema-esquerda não faz sentido existir uma extrema-direita. Os delírios ditatoriais do “Zero 3” se enquadram nesse projeto.
O desrespeito aos poderes constituídos ficou evidente desde a campanha eleitoral, quando o parlamentar disse que bastava um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, menciona um plebiscito para tirar direitos do povo.
Desde que iniciou a vida pública, há 30 anos, Jair Bolsonaro sempre falou o que quis sem nunca ser reprimido pelas instituições com prerrogativas para defender a democracia. O atual presidente atacou minorias, defendeu a ditadura, homenageou o ditador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Assim, ele chegou ao Palácio do Planalto.
Eduardo segue no mesmo caminho. Fala o que quer sem medo de ser admoestado. Em reação ao último episódio, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), fizeram pronunciamentos em defesa da democracia.
Se ficar só nisso, certamente, Eduardo terá mais chances de ver realizados seus sonhos autoritários.