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Análise: caso Marielle vai acompanhar Bolsonaro até o fim do governo

Do ponto de vista político, relações com milicianos marcam a família do presidente e têm peso semelhante ao do caso Celso Daniel para Lula

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Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Brasília(DF), 04/09/2018
1 de 1 Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Brasília(DF), 04/09/2018 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

As prisões de dois acusados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) entrelaçaram um pouco mais as relações entre a família do presidente Jair Bolsonaro e integrantes de milícias do Rio de Janeiro. Mesmo sem ligação direta com a morte da parlamentar municipal, o capitão terá de conviver até o fim do governo com o desgaste político decorrente da proximidade com o submundo do crime fluminense.

No lance mais surpreendente, um vizinho do presidente foi preso nessa terça-feira (12/3) como principal suspeito de disparar os tiros que mataram Marielle. Ex-policial militar, Ronnie Lessa tem longa trajetória de envolvimento com facções criminosas.

Um filho do presidente, segundo as investigações, teve um relacionamento amoroso com a filha do acusado. Essa circunstância também nada tem de agravante contra o capitão, mas mostra que as famílias vivem no mesmo ambiente.

Para usar um termo da física, pode-se dizer que os Bolsonaros mantêm vasos comunicantes com grupos identificados com a bandidagem. São vários os exemplos de declarações, homenagens e favorecimentos que aproximam pai e filhos de milicianos.

No caso específico de Marielle, também merece atenção o fato de que a família em nenhum momento demonstrou interesse real em elucidar o crime. As manifestações de Bolsonaro e seus seguidores sobre o assunto tiveram mais enfoque em questionamentos sobre a atuação da vereadora do que sobre a gravidade do atentado que lhe tirou a vida.

Nenhum governante se pode dar ao luxo de manter ligações perenes com milicianos sem sofrer cobranças da sociedade. Ainda mais grave, não é razoável que a família de um presidente da República acumule conexões com a banda podre da polícia do Rio de Janeiro, uma das chagas da segurança pública brasileira.

Deve-se lembrar que o combate à criminalidade e à violência foi uma das bandeiras de campanha do presidente. As interseções com suspeitos de atuação criminosa, de certa forma, põem em dúvida a viabilidade do cumprimento dessa tarefa.

Flávio Bolsonaro
Nessas condições, pelo menos do ponto de vista político, fica impossível dissociar a família Bolsonaro dos grupos apontados como responsáveis pela formação de quadrilhas que dominam as atividades criminosas no estado. Não há como, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) negar que abrigou familiares de milicianos em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Por essas circunstâncias, o caso Marielle colou no presidente e em seus filhos algo como um carimbo indesejável – mas indelével. Para apagá-lo, talvez a única saída seja Bolsonaro criar condições para um combate sem tréguas contra as milícias. Não há, no entanto, sinais de que algo nesse sentido seja feito.

Sob alguns aspectos, o assassinato da vereadora guarda semelhanças com a morte, em 2002, do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT). Embora o crime nunca tenha sido esclarecido em seus detalhes, os adversários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca deixaram de usar o episódio contra ele. Agora, fato semelhante se repete com Bolsonaro.

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