Análise: até onde vai relação da família Bolsonaro com milícias?
Dúvidas sobre envolvimento de Queiroz e Flávio com grupo criminoso afetam a credibilidade do discurso do governo sobre segurança pública
atualizado
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Afinal, até onde vai a relação entre a família Bolsonaro e as milícias cariocas? O futuro do governo federal depende, em grande parte, da resposta a essa pergunta.
O Ministério Público do Rio de Janeiro aponta lavagem de dinheiro do ex-policial militar Fabrício Queiroz na empresa de um miliciano. Se isso é verdade, o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (sem partido) fez parceria com o crime organizado.
Queiroz, como todo mundo sabe, é amigo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde a década de 1980. Ao mesmo tempo, o ex-PM interagiu com as milícias.
A confirmação formal da existência de ligações tão estreitas com uma quadrilha amarrará o capitão a uma situação inconcebível para o cargo que ocupa. Como consequência direta e imediata, desmoralizará o discurso oficial voltado para a segurança pública.
Como acreditar em enfrentamento da criminalidade se um filho e um amigo do presidente se retroalimentam desse submundo? Lembremos, ainda, das homenagens públicas feitas a milicianos pela família Bolsonaro.
De nada adiantará argumentar que os rolos são de Queiroz. A existência, por anos a fio, de vasos comunicantes entre o gabinete do “Zero Um” e os milicianos configura um sistema de colaboração recíproca e duradoura.
Sabe-se, ainda, que Flávio empregava no gabinete pelo menos duas mulheres ligadas a um miliciano. Elas também contribuíram com o caixa administrado por Queiroz (e, segundo o Ministério Público, lavado na empresa do criminoso e na loja de chocolate de Flávio).
Aos brasileiros, resta torcer para que as investigações esclareçam logo os fatos. Sem dirimir as dúvidas, fica a impressão de que as milícias são protegidas pela família presidencial. Por mais incrível que pareça, a política brasileira chegou a esse ponto.