Adélio Bispo premeditou e agiu só no ataque a Bolsonaro, conclui PF
Segundo a Polícia Federal, o crime teve motivação política e o agressor do presidenciável registrou locais aonde candidato iria em Minas
atualizado
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A Polícia Federal concedeu coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (28/9) sobre a conclusão do inquérito que apurou o atentado ao candidato à Presidência da República do PSL, Jair Bolsonaro. De acordo com a corporação, o crime, ocorrido em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG), foi arquitetado e executado por uma única pessoa: Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos. O homem foi preso minutos após esfaquear o presidenciável e está desde o dia 8 em um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande (MS).
“Chegamos à conclusão de que o senhor Adélio teria agido sozinho. Aquela informação de que ele teria agido com outras pessoas não se confirmou. Pelo contrário”, disse o delegado regional de combate ao Crime Organizado em Minas Gerais, Rodrigo Morais Fernandes, responsável pela condução da investigação. Segundo ele, o agressor havia ameaçado Bolsonaro de morte, anteriormente, pelo Facebook.
De acordo com os investigadores, Adélio Bispo chegou em Juiz de Fora (MG) vindo de Florianópolis (SC), em 19 de agosto. Ele seguiu para a cidade mineira a pretexto de conseguir emprego. Trabalhou por quatro dias em um restaurante do município, como garçom. Quando soube da ida de Jair Bolsonaro à cidade, começou a planejar o crime, conforme detalhou o delegado Rodrigo Morais Fernandes na coletiva.
Ainda segundo o responsável pela investigação, no celular de Adélio os agentes identificaram imagens de outdoors em Juiz de Fora. As placas publicitárias anunciavam a ida de Bolsonaro ao interior mineiro. O agressor também esteve em um restaurante onde o candidato tinha almoço marcado. De acordo com o delegado, Bispo acompanhava cada passo do presidenciável e teve acesso até ao hotel onde o político se encontraria com empresários.
Em sua permanência em Juiz de Fora, Adélio se hospedou em pousada simples, onde a PF apreendeu um laptop, quatro celulares e dois chips de telefone. O notebook tinha informações desde 2017. A PF verificou projetos dele de cunho político. “Identificamos vários textos políticos contrários ao que Jair Bolsonaro prega”, detalhou Rodrigo Morais. “Não restam dúvidas para a investigação que o que levou Adélio a cometer o crime foi o inconformismo político”, ressaltou.
Durante a carreata de Bolsonaro, Adélio estava em meio à multidão o tempo todo, tentando conseguir acesso ao candidato, o que veio a ocorrer na Rua Halfeld, onde ele se aproximou o suficiente para esfaquear o presidenciável na altura do abdômen. A faca usada no crime foi periciada e os exames encontraram vestígios do DNA de Jair Bolsonaro na arma.
À polícia, Adélio contou ter comprado a faca em Florianópolis e a levado para Juiz de Fora. O acusado alegou que cozinhava nos locais onde se hospedava, por isso portava o objeto mesmo antes de começar a planejar o crime. “Ele fez curso de tiro num estande em Florianópolis e alega que, desde então, queria adquirir uma arma de fogo para sua proteção, defesa própria”, disse o delegado Rodrigo Morais. “Ele se sentia ameaçado, pois fez denúncias no passado contra políticos de Uberaba [MG]. Mas desistiu de comprar [arma, pelo custo e trâmite burocrático]”, revelou Rodrigo Morais.
Motivação
Conforme explicou o delegado, “a PF vem tentando consolidar a conduta do próprio preso e de possíveis outros envolvidos no atentado, caracterizando ali um possível atentado com viés político, por inconformismo político com o que o candidato defendia. Por esse motivo ele [Adélio Bispo] foi preso, pelo artigo da Segurança Nacional”, disse o delegado Rodrigo Morais Fernandes. “Ficou claro que havia essa discordância em relação aos projetos políticos do candidato”, acrescentou.
Os investigadores colheram depoimentos de pessoas próximas a Adélio, segundo as quais “o assunto predileto do agressor era a política”, inclusive com os conhecidos.
A PF analisou mais de 2 terabytes de materiais, filmagens e informações colhidas pela cidade. Usaram também postagens divulgadas nas redes sociais. Os peritos federais analisaram mídias encontradas nos celulares e notebook apreendidos do acusado.
“Configuram-se, portanto, indubitavelmente, indícios robustos de que houve uma decisão prévia, reflexiva e arquitetada, por parte de Adélio Bispo de Oliveira, para atentar contra a vida do candidato”, diz a PF no inquérito. No computador, havia “arquivos relacionados a contatos de pessoas, partidos e organizações afinadas com a ideologia de esquerda”, registra o documento.
Nas contas bancárias em nome de Adélio não há qualquer movimentação atípica, de acordo com a Polícia Federal. “É um cidadão que não tinha grandes gastos, vivia de forma simples”, acrescentou Morais. Ainda são analisados, no segundo inquérito aberto pela PF sobre o atentado, ao menos 6 mil mensagens instantâneas e mais de 1 mil e-mails. Outros aparelhos ainda não tiveram seus sigilos quebrados: de acordo com a corporação, há seis e-mails e três telefones ainda não verificados.
“A partir do segundo inquérito vamos fazer um estudo da vida dele [Adélio] nos últimos cinco anos. Até agora, não há [indícios] de planejamento de alguém que pudesse ter [colaborado]”, explicou o delegado Rodrigo Morais.
Críticas ignoradas
A equipe envolvida no caso – além do delegado regional de combate ao Crime Organizado em Minas Gerais, o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Drogas e Facções Criminosas, Júlio César Baida Filho, também participou da coletiva – não quis comentar se, na avaliação da PF, houve falhas na escolta do candidato a presidente da República que resultaram em Adélio conseguir esfaqueá-lo.
Ambos também evitam comentar as críticas de Bolsonaro à condução da investigação pelos federais. “O nosso trabalho é técnico. Esse tipo de comentário é irrelevante”, concluiu Morais. O presidenciável será ouvido nos dois inquéritos sobre o atentado contra a sua vida.
Os números do inquérito
– Pessoas entrevistadas em campo: 40
– Testemunhas no inquérito: 30
– 2 buscas realizadas para busca e apreensão (na pousada e em uma LAN house utilizada por Adélio)
– 150 horas de imagens analisadas
– 600 documentos analisados
– 1.200 fotos analisadas
– 50 policiais envolvidos
– Tempo de oitivas (testemunhas e indiciado): 50 horas
– Laudos periciais elaborados: 9
– Tempo dedicado pelos policiais: 2.640 horas
Um segundo inquérito está em andamento. A previsão de prazo é de 30 dias, podendo ser prorrogado. Nessa investigação, serão trabalhados: dados telemáticos (mensagens trocadas em aplicativos) e telefônicos (conexão e contatos nos últimos cinco anos), correio eletrônico (1.600 mensagens e análise de seis contas) e extratos bancários.