Policial é preso ao receber propina de detento com tornozeleira
Agente é suspeito de extorquir homem em Goiás, cobrando valores para não plantar flagrante de drogas e forçar volta de condenado à prisão
atualizado
Compartilhar notícia
O agente da Polícia Civil de Goiás Luciano Luiz Peres, de 43 anos, foi preso em flagrante na última terça-feira (18/9), em Goiânia (GO), por suspeita de extorquir um preso com tornozeleira eletrônica.
Segundo investigação, o policial pediu R$ 8 mil para o homem, que está em regime semiaberto, sob ameaça de plantar drogas e voltar a prendê-lo em uma penitenciária. Ele usaria uma viatura descaracterizada para cometer o crime, onde ainda foi encontrada uma porção de maconha, popularmente chamada de “kit flagrante”.
Luciano passou por audiência de custódia na quarta e o Tribunal de Justiça determinou que a prisão em flagrante seja convertida em preventiva, mantendo o policial preso.
Extorsão do supermercado
De acordo com depoimento, um jovem de 26 anos, que usava tornozeleira por responder pelo crime de tráfico de drogas, estava sendo ameaçado por um homem que dizia ser policial.
A primeira extorsão aconteceu em 8 de outubro. O homem que se apresentava como policial invadiu a casa do jovem gritando “perdeu”, apontou a arma e algemou uma pessoa que estava no local.
Por fim, o então suposto policial exigiu R$ 8 mil para não plantar maconha e prender o rapaz de tornozeleira por tráfico, o que o condenaria a voltar ao regime fechado.
Desesperado, o jovem pegou R$ 5 mil emprestado com a tia e pagou parte da extorsão. Dias depois, ele passou a receber mensagens pelo celular em que era cobrado o restante da “dívida”. Ele chegou a mudar de casa com medo.
Na última terça, o jovem de tornozeleira foi com a tia em um supermercado em Goiânia e deu de cara com o homem que dizia ser policial, que chamou ele para um canto e voltou a fazer ameaças, cobrando os R$ 3 mil que faltavam.
Provas
A tia do rapaz, uma aposentada de 56 anos, viu a situação de longe e achou estranho, por causa da “cara de aflição” do sobrinho. Ela então tirou uma foto do homem, sem ele perceber, e anotou a placa do carro que ele dirigia.
Depois de ser ameaçado, o jovem então relatou para a tia toda a situação de extorsão que estava ocorrendo.
Com a foto do homem e a placa do carro em mãos, a mulher procurou uma delegacia. Em uma rápida conferência de dados, os investigadores descobriram que o homem realmente era o policial civil Luciano Luiz Peres, que trabalhava na Delegacia de Meio Ambiente de Goiânia.
Além disso, descobriram que ele usava uma viatura descaracterizada para ir até onde o jovem estava e tentar extorqui-lo.
Flagrante
O caso foi encaminhado para a Corregedoria da Polícia Civil, que montou uma pequena operação para conseguir prender o agente em flagrante.
Segundo o processo, o jovem de tornozeleira combinou de pagar a extorsão em um posto de gasolina de Goiânia na noite de terça (17/10). Só que toda essa negociação foi acompanhada pelos policiais corregedores.
A tia do jovem de tornozeleira sacou R$ 2 mil em uma agência bancária e as notas foram fotografadas uma por uma, para comprovar o crime.
Os policiais acompanharam de longe o momento em que o jovem entregava o envelope com o dinheiro para o policial, que estava na viatura descaracterizada. Logo após a extorsão ser paga, os policiais se aproximaram e deram voz de prisão, prendendo o colega da Polícia Civil pelo crime.
Kit flagrante
Dentro do carro do policial foi encontrada uma pequena porção de maconha em um plástico, debaixo do tapete do banco do motorista. A pistola 9 mm que estava com o policial suspeito de extorsão também foi apreendida, além de um carregador, 18 munições e uma algema.
Em interrogatório na corregedoria, o policial civil preso não comentou detalhadamente sobre a acusação e usou o direito constitucional de permanecer em silêncio, mas respondeu que ganha cerca de R$ 10 mil na função de agente, que é suficiente para manter sua família e que não é verdadeira a acusação contra ele.
Procurado pelo Metrópoles, o advogado Thiago Huascar, que trabalha na defesa do policial preso, não se manifestou.
Acesso ao localizador
Em seu depoimento, a tia do jovem de tornozeleira disse que o policial sempre conseguia chegar onde o sobrinho estava.
Por conta disso, ela sugeriu que o policial pode ter tido acesso à localização da tornozeleira eletrônica que ele usa.
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) é responsável por dar autorização para que outras forças policiais possam ter acesso ao sistema de monitoramento das tornozeleiras. O policial civil que foi preso não tem autorização de acesso a esse sistema, segundo a DGAP. A Administração Penitenciária ainda não foi comunicada sobre o caso pela Polícia Civil. Aparelhos de celular dos envolvidos vão passar por perícia.
Em nota, a Polícia Civil informou que abriu uma investigação para apurar a responsabilidade criminal e administrativa do servidor.