Policial disse “Aqui é Bolsonaro” antes de atirar, confirma vigilante
Profissional estava de plantão no dia em que tesoureiro petista Marcelo Arruda foi morto e confirmou frase em depoimento à Polícia Civil
atualizado
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Uma vigilante que estava no clube onde o tesoureiro do PT e guarda Municipal Marcelo Arruda foi morto, no dia 9 de julho, em Foz do Iguaçu (PR), confirmou em depoimento que ouviu a frase “Aqui é Bolsonaro, porra!” vinda do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, acusado de assassinar Arruda. Ele teria proferido as palavras antes de atirar contra Marcelo.
“Eu só ouvi ele nitidamente falando: ‘Aqui é Bolsonaro, porra!’. Aí, dentro de dois minutos, começou o tiroteio’, afirma Daniele Lima dos Santos, que estava de plantão na entrada da Associação Recreativa Esportiva Segurança Física Itaipu (Aresfi), onde Marcelo comemorava o aniversário de 50 anos.
Segundo vídeo divulgado pelo site Uol, a vigilante conta que Guaranho estave no local duas vezes antes do tiroteio. Na primeira, ele saiu de lá cantando pneu. Depois, Daniele diz que o policial penal veio para cima da moto onde ela estava. Ela teve que jogar a moto para o lado: “Ou eu jogava a moto ou ele passava por cima”.
A vigilante chegou a mandar uma mensagem de áudio para o chefe dela contando o episódio. Segundo a moça, por outro lado, também não havia música vindo do carro. “Senão, eu não tinha ouvido ele falando ‘Bolsonaro'”. Daniele também contou sobre o comportamento da esposa de Guaranho, ainda na primeira vez que ele esteve no clube: “Parecia que ela estava assustada”, disse.
O depoimento da vigilante não está na conclusão do inquérito da Polícia Civil do Paraná, que não viu motivação política no crime. Da mesma forma, os delegados presentes na coletiva de sexta-feira (15/7) não citaram Daniele. Essa é uma das reclamações da família e dos advogados de Marcelo Arruda.
“O fato de ter sido descartada a motivação política pela Polícia Civil foi uma surpresa, pois é um fato notório, público e, inclusive, confirmado”, disse o advogado Ian Vargas, que defende a família de Arruda, ao Metrópoles, ainda na sexta.
Segundo Vargas, a defesa entendeu o inquérito como contraditório. No documento, José Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e por causar perigo comum).
“Relatos e depoimentos dos próprios familiares do atirador confirmam o que sempre foi trazido para a imprensa e para a Polícia Civil: que o atirador esteve no local, profere palavras em referência ao presidente [Bolsonaro] e na sequência faz ameaças. Foi intolerância política que provocou esse ato”, prosseguiu o advogado.
Confira a cronologia descrita pela Polícia Civil paranaense:
- Uma pessoa, em um churrasco, acessou imagens de circuito interno de segurança de onde ocorria festa. Jorge José estava no evento e perguntou onde era realizada a comemoração, mas não fez comentários. Ele, segundo a polícia, ingeriu bebida alcoólica.
- Segundo os depoimentos, Guaranho chegou ao local da festa de Marcelo ouvindo uma música ligada à campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).
- Houve uma discussão entre eles. Marcelo jogou terra e pedras no carro de Jorge José, que foi embora, mas retornou ao local.
- É solicitado ao porteiro que ele impeça a entrada do policial penal, mas Jorge abriu o portão sozinho. Avisado de que Guaranho havia voltado, Marcelo, que era guarda municipal, carrega a arma e coloca na cintura.
- Os dois começam a discutir, e a mulher de Marcelo tenta intervir. O petista e o policial penal ordenam um ao outro para abaixar a arma.
- Jorge José da Rocha Guaranho atirou primeiro contra Marcelo, invadiu a festa e fez mais disparos. Ao todo foram quatro disparos, dois deles atingiram a vítima. Marcelo reagiu com 10 tiros. Quatro acertaram Jorge José.