Policiais e delegados influencers miram vagas na política
Eles querem converter seguidores interessados no dia a dia dos agentes de segurança pública em votos nas urnas
atualizado
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São Paulo – Com vídeos e fotos de operações, perseguições a bandidos e abordagens, policiais e delegados conquistam milhares de seguidores nas redes sociais, interessados no dia a dia dos profissionais de segurança pública.
Agora, parte desses agentes quer converter seguidores em votos nas urnas, mirando posições na Câmara dos Deputados e nas assembleias legislativas estaduais.
Em diversos estados, policiais militares e civis e delegados “influencers” já se movimentam para usar o alcance que ganharam no Instagram, YouTube, Facebook e Twitter para se alavancarem politicamente. Alguns deles mostram nas redes um viés punitivista, com ideias duras para combater o crime.
Pela regra eleitoral, policiais e delegados precisam se afastar do cargo três meses antes do pleito, ou seja, em agosto, se quiserem virar candidatos.
Não é novidade a presença de policiais, delegados e também membros do Exército nos legislativos federal e estadual, tanto que o Congresso Nacional tem a chamada “bancada da bala”. Alguns dos partidos que mais concentram essas categorias são o PL, o PP e o União Brasil – fruto da fusão do DEM com o PSL -, mas há agentes em diversas siglas.
Nas eleições de 2018 e 2020, alguns policiais “influencers” se elegeram para cargos políticos, sendo o vereador do Rio de Janeiro Gabriel Monteiro (PL) o exemplo mais emblemático.
Quando PM, ficou famoso publicando operações policiais no YouTube e Instagram, fazendo discursos pró-polícia e criticando decisões judiciais que beneficiavam condenados. Foi eleito vereador e, em abril deste ano, vieram à tona denúncias contra ele por se relacionar sexualmente com adolescentes e filmar os atos.
Pré-candidatos
Neste ano, um dos pré-candidatos policiais mais famosos é Carlos Alberto da Cunha, o Delegado da Cunha, que soma mais de 3,6 milhões de inscritos no YouTube, onde ficou famoso por publicar vídeos de operações policiais, inclusive na Cracolândia, na região central da capital paulista. No Instagram, a fama se repete: são 2,2 milhões de seguidores.
Da Cunha se firma como pré-candidato a deputado desde o ano passado, e atualmente é filiado ao PP, partido pelo qual pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em São Paulo.
Entretanto, desde o ano passado, é alvo de investigações na Corregedoria da Polícia Civil por suspeita de forjar operações justamente para gravar vídeos publicados em seu canal. Na semana passada, o Conselho da Polícia Civil aprovou a demissão dele, mas a decisão depende do governador Rodrigo Garcia (PSDB). Caso ele seja demitido, ficará inelegível.
Em vídeo publicado no último dia 7, ele debocha da deliberação do conselho, diz que não ficará inelegível e afirma que a Justiça já arquivou representações contra ele pelo mesmo motivo. Procurado pelo Metrópoles para dar entrevista, não retornou.
Outro exemplo de agente policial que faz sucesso nas redes e que deve concorrer a deputado federal é Rafael Telhada, coronel da Polícia Militar e filho do deputado estadual e ex-comandante da Rota Coronel Telhada (PP). Assim como o pai, ele integra o Progressistas.
A socióloga Fábia Berlatto publicou um estudo em 2014, junto com outros pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no qual identificou que de 1998 até 2014, 972 integrantes das forças de segurança pública civis e militares se candidataram ao cargo de deputado federal. Por isso, ela avalia que esse tipo de candidatura não é nova, mas houve um “ápice da sequência nas eleições de 2018”.
“Mais atualmente também foi possível notar que o fenômeno do bolsonarismo se tornou um polo agregador e propulsor, já que há muitas estratégias de aproximação desse perfil de candidato ao rótulo, quer dizer, ao Bolsonaro. Pudemos ver isso no aumento desse perfil de candidatos pelo PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu”, analisa.
Outros estados
Em Goiás, o Podemos deverá ter como candidato a deputado federal o tenente-coronel Edson Melo, que ganhou fama por ser o policial que matou Lázaro Barbosa – conhecido como “serial killer” do Distrito Federal – em junho de 2021, após uma intensa perseguição com ampla repercussão midiática.
Melo se popularizou nas redes sociais e, desde então, tem um podcast chamado Papo de Raiado, lançou um livro em março intitulado Contagem Regressiva, no qual conta a caçada a Lázaro, e possui forte presença nas redes sociais, com mais de 30 mil seguidores no Instagram. Nesta semana, publicou um vídeo ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e costuma postar mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Alagoas também deve contar com representantes das polícias no pleito estadual e federal. Um deles é o delegado Thiago Prado. Com mais de 54 mil seguidores no Instagram, ele compartilha resultados de investigações da Polícia Civil e vídeos em operações e comenta sobre casos de criminalidade de grande repercussão.
Ao Metrópoles, ele contou que é delegado desde 2012, e passou a fazer publicações nas redes sociais, inicialmente, para dar dicas de segurança para evitar golpes. “Daí comecei a fazer vídeos passando dicas para as pessoas não caírem nessas armadilhas, e assim muitas pessoas passaram a acompanhar parte do nosso trabalho”, afirma.
Prado diz que o que o levou a tentar uma vaga como deputado estadual de Alagoas foi “enxergar que a causa da violência está na severa deficiência nas políticas públicas” e, por isso, acredita que pode “contribuir muito como parlamentar, para que as pessoas da periferia tenham mais oportunidades e a nossa juventude se distancie do mundo das drogas, que é a grande porta de entrada para o mundo do crime”.
Outro exemplo no mesmo estado é o delegado Leonam Pinheiro, pré-candidato a deputado estadual pelo União Brasil. Hoje, acumula mais de 171 mil seguidores no Instagram, onde publica fotos e vídeos de operações policiais contra furtos e roubos e, principalmente, contra maus-tratos a animais domésticos.
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