Polícia fala de “laranjas” em contratos milionários na Saúde em Goiás
Polícia suspeita que irmão de secretário de Saúde, preso nesta quinta, usava “laranjas” para esconder parentesco. Metrópoles revelou esquema
atualizado
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A Polícia Civil de Goiás suspeita que o médico Daniel Alexandrino (em destaque na foto) usava “laranjas” para esconder seu parentesco com o irmão, o deputado eleito Ismael Alexandrino (PSD) e conseguir contratos milionários com uma organização social que administrava hospitais e policlínicas estaduais de Goiás.
Na época que os contratos foram firmados, em fevereiro e março de 2022, Ismael Alexandrino era secretário de Saúde de Goiás. A legislação goiana proíbe que a organização social se relacione com entidades privadas cujos dirigentes tenham relação de parentesco com agentes públicos de poder.
Daniel foi preso nesta quinta-feira (26/1) em uma operação da Polícia Civil. Foram cumpridos três mandados de prisão e 17 de busca. A casa de Ismael Alexandrino foi um dos alvos. A investigação começou após reportagem exclusiva do Metrópoles, publicada em junho do ano passado, revelar o esquema.
Veja imagens da operação:
Contratos milionários
Segundo a Polícia Civil, foram firmados mais de R$ 10 milhões em contratos entre as empresas Amme Saúde e a organização social Instituto Brasileiro de Gestão Compartilhada (IBGC). O objeto dos contratos era a prestação de serviços médicos especializados no Hospital de Itumbiara e nas policlínicas de São Luís de Montes Belos e da cidade de Goiás.
“As investigações também revelaram fortes indícios de que os investigados teriam promovido declarações falsas no contrato social da empresa (ligada a Daniel Alexandrino), registrando-a em nome de terceiros (“testas de ferro”) com o intuito de dissimular vínculo familiar existente entre seu verdadeiro proprietário e o gestor da pasta da saúde à época em que celebradas as subcontratações”, informou em nota o delegado Francisco Lipari, que coordena a investigação.
Reportagem do Metrópoles já revelou que a dona da Amme Saúde é a administradora Andréia Lopo de Oliveira (em destaque na foto). Ela é ex-secretária da clínica particular do irmão de Ismael Alexandrino. Além de ex-funcionária de Daniel Alexandrino, Andréia também é dona de outra empresa chamada AZ Liffe Ltda, que já pertenceu ao irmão do deputado federal eleito. Em seu currículo no sistema Lattes, Daniel Alexandrino chegou a se apresentar como “proprietário da Clínica Amme Saúde”, mesmo nome da empresa que fechou contratos milionários.
Histórico
Ismael Alexandrino foi secretário de Saúde em Goiás, no governo de Ronaldo Caiado (União Brasil) entre 2019 e 2022. Em março do ano passado, ele deixou o cargo para ser candidato a deputado federal e foi eleito com 54.791 votos.
O deputado eleito também foi diretor-presidente do Instituto Hospital de Base (IHB) em Brasília. Ele deixou a gestão do hospital em 2018 para assumir o cargo de secretário em Goiás.
Em agosto de 2021, a casa de Ismael Alexandrino em Goiânia foi alvo de busca e apreensão em uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que investigava o Instituto de Gestão Estratégica em Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), empresa que era responsável pela gestão do Hospital de Base.
Ismael Alexandrino também fez parte da equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no grupo de saúde.
Em nota do advogado Demóstenes Torres, o deputado eleito Ismael Alexandrino informou que está colaborando com as autoridades na investigação, inclusive ao fornecer a senha de seu aparelho de telefone celular.
Veja a nota completa:
“Sobre os recentes acontecimentos, a defesa esclarece que o ex-secretário estadual de Saúde Ismael Alexandrino está colaborando com as autoridades na referida investigação, inclusive ao fornecer a senha de seu aparelho de telefone celular”.
“Enfatiza-se que, durante a sua gestão à frente da Secretaria Estadual de Saúde, Ismael sempre garantiu total transparência e lisura em todos os processos da Pasta. Tal fato fez com que a SES atingisse 100% de pontuação no Goiás Mais Transparente 2022, permanecendo com o Selo de Ouro da premiação, segundo a Controladoria Geral do Estado (CGE) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE)”.
“Sobre a investigação, a defesa aponta que requererá acesso aos autos para verificar possíveis nulidades como a ausência de contemporaneidade para o ato e a usurpação de competência da Justiça Federal e do Supremo Tribunal Federal. Por fim, esclarece-se que o ex-secretário de Saúde continuará à disposição das autoridades para eventuais esclarecimentos que se fizerem necessários”.
