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Taxa de suicídios na PF é 4 vezes maior que a da população em geral

Federação que representa os servidores pede a implementação de um programa de prevenção ao suicídio e tratamento de transtornos mentais

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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

O tamanho do estresse enfrentado pelos policiais federais brasileiros pode ser medido em um número dramático, o de suicídios desses profissionais. Nos últimos 10 anos, 31 servidores da corporação tiraram a própria vida, revela levantamento inédito da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef).

A gravidade da situação é percebida na comparação do número com a taxa de suicídios na população em geral. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, o volume de suicídios a cada 100 mil habitantes em 2016 (último ano com dados consolidados) foi de 5,8 (naquele ano, 11.433 brasileiros tiraram a própria vida). Caso se faça essa projeção proporcional para os casos de suicídio entre policiais federais (que são 13.400 na ativa, segundo o Ministério do Planejamento), a taxa seria de 23,13 mortes a cada 100 mil pessoas: quatro vezes mais do que na população em geral.

Ainda que se compare apenas com a taxa de suicídios entre os homens, que é bem maior do que o número geral (9,2 casos a cada 100 mil homens em 2016), a porcentagem entre policiais federais ainda é mais do que o dobro da dos brasileiros.

“A categoria trabalha sob um nível de pressão enorme. Há pesquisas internas mostrando que metade dos agentes tem ou teve sintomas de depressão”, conta o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens. “A luta vem de muitos anos e demanda da direção que se crie mecanismos para identificar o perigo e tratar, evitar essas mortes, mas é muito difícil.”

Apesar dos números expressivos, o assunto é tabu na corporação, de acordo com Boudens. “Em vez de ajuda, o que existe é estigma para quem tira uma licença para cuidar da saúde mental. Ganha apelido de doido, o chefe tenta transferir a pessoa. Não há mecanismos de prevenção e tratamento”, reclama, citando a existência de uma regra que não é cumprida: a Portaria Interministerial SEDH/MJ nº 2, de dezembro de 2010. O texto estabelece que se ofereça aos profissionais de segurança “atendimento independente e especializado em saúde mental” e a criação de “programas de prevenção ao suicídio, disponibilizando atendimento psiquiátrico, núcleos terapêuticos de apoio e informações sobre o assunto”.

Segundo o presidente da Fenapef, isso não existe. “Já disseram que iam iniciar uma campanha de prevenção, mas tudo que fizeram foi colar nos ambientes o telefone dos psiquiatras”, reclama Boudens. “Não existe capacitação das chefias para cuidar dessa questão. Não há acompanhamento, mas perseguição”, completa.

Outro lado
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, órgão responsável pela PF, defendeu em nota que a prevenção ao suicídio é um tema de “extrema relevância” para a pasta e “por isso foi definido como uma das prioridades para atuação do Ministério da Justiça e Segurança Pública por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública. A Lei nº 13.675/2018 instituiu o Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissionais de Segurança Pública, o Pró-Vida e, desde então, estão sendo desenvolvidas ações para execução do programa”.

O órgão informou que, em 13 de agosto, promoveu o Encontro Técnico Anual do Pró-Vida, com 170 profissionais da área de segurança de todo o país para “difundir conhecimentos técnicos e de prevenção”. “Estamos estimulando e incentivando a elaboração, a execução e o monitoramento de ações nas áreas de saúde, de qualidade de vida e de segurança dos profissionais de Segurança Pública de todo o país”, garantiu a nota.

Prevenção em pauta
Esta terça-feira (10/09/2019) marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para que o ato não seja estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o motivo que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.

Arte/Metrópoles

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