PF de Londrina investigou grupo que denuncia páginas e sites de fake news
Delegado levantou suspeitas de incitação ao crime e calúnia. Sleeping Giants BR denunciou publicidade do BB em páginas com notícias falsas
atualizado
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O delegado Ricardo Filippi Pecoraro, da Polícia Federal em Londrina, interior do Paraná, investigou o Sleeping Giants Brasil, o grupo anônimo que expõe anunciantes que veiculam publicidade em sites que publicam notícias falsas e teorias da conspiração de extrema-direita. As informações são do site The Intercept Brasil.
O inquérito foi aberto em 25 de maio deste ano, uma semana após o grupo surgir no Twitter e denunciar que o Banco do Brasil anunciava em um site que apoia Jair Bolsonaro e que já tinha sido condenado na Justiça por disseminar fake news. O assunto chegou ao Tribunal de Contas da União (TCU), que determinou a suspensão da publicidade. Desde então, o grupo virou alvo de bolsonaristas.
A estratégia do Sleeping Giants é alertar publicamente anunciantes que compram mídia programática no Google AdSense e em outras plataformas. Na maior parte das vezes, o anunciante não sabe que o Google distribui seus anúncios também em sites que propagam notícias falsas. Alertados pelo Sleeping Giants, eles podem pedir para que a plataforma retire suas peças dos canais que divulgam mentiras, o que faz com que os donos dos veículos percam faturamento.
Pecoraro queria que o grupo fosse “devidamente intimado e ouvido por esta Autoridade Policial, a fim de esclarecer quais seriam as fake news propagadas e por quais mídias estas se dariam”. Para justificar a necessidade da investigação, Pecoraro citou artigos do Código Penal que tratam de incitação ao crime e denunciação caluniosa.
Ele afirmou que “pode-se deduzir, segundo análise de inteligência policial, que há razoável possibilidade de que referido perfil Sleeping Giants possa ter tido acesso a informações sigilosas do Inquérito Policial que tramita no STF, e que as esteja usando para apontar a qualidade de propagadores de fake news a possíveis alvos investigados pelo STF e que lhe sejam previamente conhecidos”.
A análise de inteligência policial mencionada foi elaborada pelo próprio delegado para justificar a investigação.
Ele chegou a sugerir que só quem conhece o discutido inquérito, que tramita sob os cuidados do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal, é capaz de saber o que são fake news.
Na peça de instauração do inquérito, o delegado viu possíveis “crimes contra os Direitos Humanos e Garantias Constitucionais relacionadas à Liberdade de Imprensa; à Liberdade de Pensamento; à Liberdade de Expressão e à Livre Concorrência dos Meios de Comunicação no Brasil”. Ele se propôs a apurar “os crimes eventualmente existentes pertinentes à produção mesma de fake news, conforme insistentemente apontados pelo perfil intitulado Sleeping Giants”.
Pecoraro ainda argumentou que “a informação de que há sites propagadores de fake news causou extremo desgaste e inconformismo a toda população, inclusive a que vive em Londrina” e região, “uma vez que passou a fazer acusações graves, contudo genéricas, não apontando exatamente quais teriam sido as fake news que os veículos de comunicação que cita teriam cometido, gerando insegurança à coletividade”.