PCC treinou facção para explodir caixas bancários no Rio de Janeiro
Houve seis explosões em uma semana, as mais recentes na sexta-feira (22/4). Uma delas ocorreu em Ipanema, na zona sul da capital
atualizado
Compartilhar notícia
Os criminosos que têm explodido caixas eletrônicos no Rio foram treinados por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), conforme revela a investigação do Ministério Público Estadual fluminense. Houve seis explosões em uma semana, as mais recentes na sexta-feira (22/4). Uma foi em Ipanema, na zona sul da capital, e outra no município de Tanguá, região metropolitana.
O Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP se debruça sobre esse tipo de crime há nove meses. Descobriu que criminosos do Rio, ligados ao Comando Vermelho (CV) — facção até o ano passado aliada ao PCC —, receberam da quadrilha de São Paulo aulas sobre como manusear e posicionar os explosivos.
O representante do Ministério Público Estadual esteve à frente da Operação TNT, deflagrada na quinta-feira para desarticular a quadrilha que vem realizando ataques a caixas em todo o Rio desde o ano passado. Para o promotor, trata-se do mesmo grupo responsável pelas investidas no dia seguinte.
Uma das dificuldades da facção carioca sanada pelas “lições” do PCC foi o posicionamento dos explosivos de modo a, no momento da detonação, preservar o noteiro, caixa onde fica guardado o dinheiro. Os caixas possuem um dispositivo sensível ao calor que inutiliza as notas em caso de explosão. Isso vinha atrapalhando os planos dos criminosos do Rio.
Os assaltantes usam C-4, explosivo que serve a grandes demolições, entre outras substâncias de alto poder destrutivo, adquiridas em pedreiras. Em Tanguá, os criminosos invadiram uma agência do Banco do Brasil no bairro da Taquara. Policiais militares que faziam ronda na localidade foram acionados e chegaram a trocar tiros com o grupo. Ninguém foi preso.
Em Ipanema, o alvo foi uma agência da Caixa Econômica Federal, que ficou parcialmente destruída. O montante roubado não foi divulgado. O banco, que fica na Rua Visconde de Pirajá, a principal do bairro, ficou com o revestimento do teto e piso destroçado. O caso está a cargo da Polícia Federal, porque a CEF é uma empresa controlada pela União.
Vizinhos foram acordados pelo forte estrondo às 3h30, pensando se tratar de uma explosão de tubulação de gás. “Nunca imaginei que seriam explosivos no banco. É muito assustador”, disse a estudante Giulia Pivatelli, de 20 anos, que mora no prédio em cima da CEF.
“Parecia um trovão, daqueles bem fortes, ou explosão de gás. Não tive coragem de vir olhar. De dia tem assaltos na rua, mas algo grave assim eu nunca vi”, contou José Silva, de 66 anos, porteiro do edifício, diante do cenário de destruição.
A agência fica em um ponto comercial e de lazer bastante movimentado de Ipanema, um dos bairros mais caros e turísticos do Rio. Feirantes que montavam suas barracas na Praça Nossa Senhora da Paz, bem na frente da CEF, e não quiseram se identificar, relataram que a ação foi muito rápida e lhes pareceu “coisa de profissionais”.
O modo como os assaltantes agem tem se repetido. Eles chegam em três carros, em geral, por volta das 3h ou 4h, em grupos de 10 a 15 homens, armados de fuzis e com os explosivos. Dividem-se em grupos e permanecem cerca de 10 minutos no local. Explodem os caixas e fogem deixando na rua artefatos de arame pontiagudos, para rasgar os pneus de carros da polícia que tentem persegui-los.
A ação é planejada com base em informações passadas por cúmplices no banco: eles só investem contra caixas que estão com bastante dinheiro.
Este mês, sofreram explosões agências em Vila Isabel e em São Cristóvão, na zona norte, e um caixa 24 horas em uma padaria em Coelho da Rocha, bairro de São João Meriti, Baixada Fluminense. Também em Meriti, houve tentativa no dia 16, mas os ladrões não conseguiram completar a detonação. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), em 2016 foram 51 roubos a caixas eletrônicos, um aumento de 54% em relação ao número verificado em 2015.
Rentabilidade
“O uso de explosivos era um conhecimento específico e restrito que está se alastrando por causa da alta rentabilidade”, afirmou o promotor do Gaeco. “Essas ações são rápidas e muito menos arriscadas do que o tráfico, em que há sempre confronto com a Polícia. Houve um caso frustrado em Angra dos Reis (no litoral sul do estado) em que o bando conseguiria retirar R$ 800 mil de uma única vez”, revelou.
Ele não acredita que a ruptura entre o PCC e o CV, no fim do ano passado, tenha feito cessar os contatos entre os bandidos das duas facções que atacam caixas.
No escopo da Operação TNT, foram expedidos 34 mandados de prisão Vinte haviam sido cumpridos até o sábado (22/4) no Rio, na Baixada, no sul fluminense e também em São Paulo; os demais suspeitos ainda estão sendo procurados.
O ponto de partida da investigação do Gaeco foi uma ocorrência em Resende, no sul do estado, em agosto de 2016. Criminosos usaram dinamite para destruir dois caixas instalados em uma montadora de caminhões. A quadrilha roubou pelo menos R$ 2 milhões com a explosão de seis caixas no interior do Rio e na capital, estima o MP.