O que se sabe sobre a investigação do grupo suspeito de hackear Moro
Quatro pessoas foram presas pela em investigação sobre suposta ação hacker que invadiu celular do ministro e de outras autoridades
atualizado
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A Polícia Federal (PF) acredita que cerca de mil números tenham sido alvo do grupo suspeito de hackear o ministro Sergio Moro e as investigações continuam. Até agora, não foram apontados indícios de relação entre a ação do grupo e a divulgação de mensagens privadas de procuradores da Lava-Jato e o ministro Sergio Moro, feitas pelo The Intercept. Nessa terça-feira (23/07/2019), a PF prendeu quatro pessoas por suspeitas de invasão a contas de autoridades no aplicativo de mensagens Telegram. Também foram feitas buscas em endereços de investigados. Entenda o que se sabe sobre a Operação Spoofing até o momento:
Quem foi preso?
Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos: trabalha como DJ e tem passagens pela polícia por receptação e falsificação de documentos; Suelen Priscila de Oliveira: mulher de Gustavo, sem registros de passagens pela polícia; Walter Delgatti Neto: conhecido como Vermelho, já foi preso por falsidade ideológica e por tráfico de drogas; Danilo Cristiano Marques: já teve uma condenação por roubo.
O que hackers fizeram com informações roubadas?
São várias as interrogações sobre a ação do grupo de supostos hackers e não se sabe o que eles fizeram com o material roubado. Não há, por exemplo, nada que até o momento ligue Vermelho e os demais às mensagens publicadas pelo site The Intercept, que supostamente teriam sido trocadas pelo então juiz da Lava Jato, Sergio Moro, e integrantes da força-tarefa da operação. Tal hipótese sequer consta da decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, que concedeu prisão temporária dos quatro suspeitos.
Como os hackers atuavam?
A investigação da PF indica que os supostos hackers tiveram acesso ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram ao celular de Moro para abrir a versão do aplicativo em um navegador. Depois, eles fizeram ligações para o número de telefone da vítima, “a fim de que a linha fique ocupada e a ligação contendo o código de ativação do serviço Telegram Web seja direcionada para a caixa postal da vítima”, explicou Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, de Brasília.
Conversas seriam vendidas ao PT?
O advogado de dois dos suspeitos presos disse que, segundo um de seus clientes, o objetivo de Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, seria vender as mensagens captadas para o PT. “Vermelho”, que também está preso, confessou as invasões, segundo a PF, mas a instituição não revelou se ele informou o que teria feito com as informações roubadas. Em nota, o partido considerou que as investigações da Operação Spoofing, da Polícia Federal, são mais uma armação de Moro para incriminar a sigla.
Qual o resultado da operação da PF?
Quatro pessoas foram presas sob suspeita de hackear telefones de autoridades e invadir suas contas no aplicativo Telegram. Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP).
Até o momento, quais autoridades foram vítimas da invasão?
-Jair Bolsonaro, presidente do Brasil
-Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública
-Abel Gomes, desembargador do TRF da 2ª Região
-Flávio Lucas, juiz da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro
-Rafael Fernandes, delegado da Polícia Federal em São Paulo
-Flávio Vieitez Reis, delegado da Polícia Federal em São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro também foi alvo de hackers?
Sim, de acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Por questões de “segurança nacional”, a pasta foi informada pela Polícia Federal. Um lado pericial será enviado ainda esta semana para a investigação, como forma de balizar os próximos passos da apuração.
Como os investigadores chegaram aos nomes dos quatro suspeitos?
O ministro Sergio Moro notou que havia sido hackeado quando recebeu ligações de seu próprio número. Os investigadores seguiram os rastros dos telefonemas e descobriram que todas as chamadas para o ministro e para as demais autoridades vítimas do ataque partiram de um único usuário registrado. Pelos endereços de protocolo da internet (IPs) atribuídos aos aparelhos que se conectaram ao sistema da BRVoz para fazer as ligações, foram identificados os locais de residência de Danilo Cristiano Marques, Suelen Priscila de Oliveira, Walter Delgatti Neto e Gustavo Henrique Elias Santos.
O que foi encontrado nos endereços em que houve busca e apreensão?
Cerca de R$ 100 mil em espécie foram apreendidos na casa do casal suspeito de hackear o celular de Moro. Além disso, os policiais encontraram aparelhos compatíveis com a ação que se suspeita que o grupo praticou. Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira ainda movimentaram mais de R$ 600 mil em contas bancárias durante o período de três meses, mesmo com renda mensal de cerca de R$ 3 mil, segundo investigações.
As prisões estão relacionadas ao vazamento do site The Intercept Brasil?
Os investigadores ainda não conseguiram estabelecer se o grupo alvo da operação tem ligação com o pacote de mensagens. Também não há provas de que os diálogos foram obtidos a partir de ataque hacker. O Intercept afirma apenas que recebeu o pacote de conversas de uma fonte anônima que pediu sigilo. Ontem, Sergio Moro postou uma mensagem no Twitter em que associa os presos às conversas divulgadas. Essa relação, contudo, não foi estabelecida pela Polícia Federal nem pelo Ministério Público até o momento.
Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime.
— Sergio Moro (@SF_Moro) July 24, 2019
Outras pessoas podem ter sido hackeadas?
Segundo a Polícia Federal, é possível que outras quase mil pessoas dos três Poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo) tenham sido alvo dos hackers. Para a PF, os hackers são estelionatários e praticaram crime a fim de obter benefícios em dinheiro.
Por que a operação recebeu o nome “Spoofing”?
Segundo a Polícia Federal, spoofing é “falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é”.