Menino de 11 anos diz que amigo morto por PM não estava armado
Na primeira versão, gravada em vídeo pelos policiais, o jovem disse o garoto de 10 anos dirigia e atirava contra os policiais. Quando o veículo bateu, ele ainda fez um último disparo e foi morto no revide
atualizado
Compartilhar notícia
O menino de 11 anos que se envolveu em um furto de carro que terminou em perseguição e na morte do amigo de 10 anos, baleado na cabeça por um policial militar, prestou um terceiro depoimento no domingo (5/6), na Corregedoria da Polícia Militar. Dessa vez, ele afirmou que o amigo não estava armado e que o revólver foi plantado pelos policiais.
A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmada ao Estado de S. Paulo pela mãe do menino.
A reportagem apurou que os corregedores foram buscar o menino e a mãe em casa. Depois seguiram para a sede da Corregedoria, no Bom Retiro, na região central da capital paulista. Para conquistar a confiança da criança, uma psicóloga ficou conversando com ela em uma espécie de brinquedoteca. Lá, ele contou a nova versão. Em seguida, o depoimento oficial foi realizado.
Depoimentos
Na primeira versão, gravada em vídeo pelos policiais envolvidos na ocorrência, o menino disse que ele e o amigo furtaram um carro de um condomínio, na Vila Andrade, na zona sul, e foram perseguidos pela PM. O garoto de 10 anos dirigia e atirava contra os policiais. Quando o veículo bateu, ele ainda fez um último disparo e foi morto no revide.
Na segunda versão, o menino afirmou que o amigo dirigia e atirava. Mas quando o carro bateu e parou, não houve tiroteio. O policial de moto chegou e atirou na cabeça do garoto. O sobrevivente saiu do carro, foi colocado no chão, levou um tapa e foi ameaçado pelos policiais.
A mãe do menino morto será ouvida na manhã desta terça-feira (7), no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso. O menino sobrevivente deve ser chamado novamente para prestar depoimento.
Tapa
O menino de 11 anos afirmou em depoimento no DHPP que levou um tapa e foi ameaçado pelos PMs envolvidos no caso antes de chegar à delegacia.
A reportagem teve acesso ao depoimento, o segundo, ocorrido na sexta-feira, na sede do DHPP. A mãe da criança e o advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), acompanharam o menino. Ele afirmou que, juntamente com o amigo de 10 anos, foi perseguido pela PM após ambos furtarem um carro que estava na garagem de um condomínio, na Vila Andrade, zona sul. O amigo teria atirado três vezes na perseguição, mas acabou batendo em dois veículos antes de parar, segundo o garoto.
Um PM que estava de moto caiu e, em seguida, se levantou e atirou contra o vidro do motorista e acertou a cabeça do menino de 10 anos, que dirigia. Neste momento, não houve tiroteio, segundo ele. Em seguida, os PMs mandaram o garoto de 11 anos sair pela porta da frente.
Ele passou por cima do corpo do amigo e saiu. Na rua, foi dominado pelo policial que atirou e colocado no chão com as mãos para trás. Depois, relata que levou um tapa e outro policial disse que se ele “não tivesse mãe e pai, iriam matá-lo”.
Cinco horas
Segundo o DHPP, os PMs ficaram cerca de cinco horas com o menino antes de apresentá-lo no departamento. Nesse período, a criança gravou o vídeo, a pedido dos policiais. Nele, confirma a versão inicial dos PMs, de que o menino de 10 anos atirou para, em seguida, ser morto. Para Alves, o menino foi coagido a gravar o vídeo. Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) comentou que o vídeo “parece espontâneo” e o caso é investigado “com todo o rigor” pelo DHPP.
A Secretaria da Segurança Pública destacou que a Corregedoria instaurou procedimento administrativo e inquérito para apurar toda a conduta dos PMs, que estão afastados das ruas. “Em relação ao vídeo, o DHPP informa que foi enviado para ser incluído no inquérito.”