Delação de Joesley leva Greenfield a denunciar 14 pessoas
Revelações do empresário do grupo J&F foram decisivas para a investigação que aponta fraudes no Funcef e Petros, segundo acusação do MPF
atualizado
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A força-tarefa Greenfield apresentou denúncia, na manhã desta sexta (25/10/2019), contra 14 pessoas envolvidas em fraudes bilionárias nos fundos de pensão Funcef e Petros. O grupo é acusado por praticar os crimes de gestão fraudulenta, corrupção e lavagem de dinheiro, entre 2009 e 2015, junto ao Fundo de Investimentos e Participações Florestal, que na época tinha como principais participantes empresário Joesley Batista e Mario Celso Lopes.
A acusação da Greenfield tem base na delação de Joesley que, em 2017, fechou acordo com a Procuradoria.
Além condenações, os procuradores pedem o pagamento de valor correspondente ao triplo dos danos causados aos participantes e beneficiários dos fundos e também a reparação de dez vezes os valores das propinas envolvidas. O montante total das reparações terão que arcar com quase R$ 5,3 bilhões em multas e danos.
Segundo a força-tarefa, os ex-executivos da Petros e da Funcef concordaram que fossem aportadas cifras milionárias no FIP Florestal, sem, “observarem deveres de diligência e análise de riscos”. As medidas receberam como “incentivo” pagamentos de propinas efetuados por Joesley, diz a Procuradoria.
A Greenfield indica que as propinas pagas aos gestores dos fundos de pensão resultaram em quase R$30 milhões. “Para dissimular a natureza ilícita dos repasses, Joesley utilizou a emissão de notas fiscais frias, fez transferências bancárias, deu um apartamento em Nova York, usou offshores e também chegou a entregar dinheiro em espécie”.
A investigação identificou ainda a utilização de laudos fraudulentos, que superestimavam o valor da Florestal, por uma empresa diretamente vinculada ao capital da produtora de celulose. De acordo com a Procuradoria, a manobra facilitou a autorização dos investimentos que, à época, passavam de meio bilhão de reais.
Os procuradores também destacaram a incorporação da Florestal pela Eldorado, também pertencente a Joesley e Lopes. Segundo a Procuradoria, os empresários supervalorizaram a segunda empresa. O processo, que teria contado com pagamento de propinas, visava ‘diluir a participação das entidades de previdência após a incorporação’. “Com isso, os fundos de pensão terminaram, após o processo de reestruturação, com menos ações da companhia investida do que fariam jus se fosse respeitado o valor justo de mercado.”, dizem os procuradores.
“O esquema proporcionou a Joesley e a Mário Celso o controle de uma nova grande empresa sem precisar ter realizado o investimento condizente com o valor de tal empresa. A partir de então, tiveram os investigados o porte necessário para obter, junto ao FGTS e Caixa (entre outros bancos), financiamentos e empréstimos que permitiram alavancar ainda mais o valor da Eldorado, gerando a empresa que hoje é uma das líderes do mercado de celulose no Brasil”.
O delator
Joesley não foi denunciado em razão de seu acordo de colaboração premiada, que ainda está pendente de rescisão por julgamento no STF. A Força-Tarefa pediu que o prazo prescricional e o para oferecimento da denúncia sejam suspensos: “Nesse contexto de apuração de omissão na colaboração, convém destacar que, no caso concreto, essa suspensão ganha mais importância, em comparação com casos anteriores apurados por esta força-tarefa envolvendo o colaborador, considerando que descreve não apenas crimes de corrupção, abarcados explicitamente pela colaboração, mas também gestão temerária e fraudulenta, não mencionados expressamente no acordo”, argumentaram.
COM A PALAVRA, JOESLEY BATISTA
“O empresário Joesley Batista firmou acordo de colaboração com o MPF em 2017 e desde então contribui com as investigações da Operação Greenfield. Ele reitera ainda seu compromisso de cooperar com o trabalho das autoridades brasileiras no combate à corrupção.”