Polícia abre nova investigação sobre invasão em fazenda no Vale da Lua
Segundo a Polícia Civil de Goiás, inquérito foi concluído, mas testemunhas indicam ex-marido da dona da fazenda como suspeito
atualizado
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Goiânia – A Polícia Civil de Goiás (PCGO) abriu investigação complementar para apurar a invasão de uma fazenda na região do Vale da Lua, na Chapada dos Veadeiros (GO), avaliada em R$ 10 milhões. Em 20 de agosto, sete homens fortemente armados chegaram à propriedade com o objetivo de tomar posse do local, mas fugiram após a Polícia Militar ser acionada.
Inicialmente, a dona da fazenda, a empresária Ana Paula Gonçalves, acusou outra empresária, Carla Vasconcelos, de ser a mandante do crime. No entanto, a história sofreu uma reviravolta, segundo a polícia.
De acordo com o delegado à frente do caso, José Antônio Sena, duas das sete pessoas que invadiram a fazenda mudaram os depoimentos e apontaram novo suspeito. Nesse caso, o mandante do crime seria o empresário Helder Rodrigues Zebral, ex-marido de Ana Paula.
Ana Paula conta que denunciou o ex-companheiro na Delegacia da Mulher, com base na Lei Maria da Penha, assim como teve medidas protetivas contra ele. A empresária alega ter sofrido violência física, psicológica e patrimonial ao longo do relacionamento com Zebral.
Briga por separação
De acordo com Ana Paula, ela e o ex-marido travam uma longa briga após a separação do casal, que não teria sido aceita pelo homem. Por isso, segundo a empresária, ele tenta prejudicá-la.
“Ele foi o mentor e financiador de todo o esquema. Além de mandar invadir a fazenda, ordenou que colocassem fogo em uma outra propriedade, também na Chapada, por duas vezes, em 2018 e em 2020. Tenho a informação de que um funcionário dele ateou fogo à fazenda por R$ 30 mil, e câmeras de segurança registraram o momento. Ele ainda escreveu ‘morte’ nas portas de alguns chalés”, alega Ana Paula.
Veja o vídeo de um dos incêndios:
Em depoimento à polícia, ao qual o Metrópoles teve acesso, um ex-funcionário do casal, que trabalhou com a família por cerca de 15 anos, contou que o relacionamento deles era conturbado e que presenciou ameaças à empresária.
“O depoente afirma que presenciou algumas brigas e discussões do casal. Que o casal se separou e reatou diversas vezes durante vários períodos. Que, durante a convivência com o casal, o depoente afirma não ter presenciado agressões de Helder a Ana Paula, porém ouviu as ameaças que ele fazia. Que Helder afirmava durante as separações em conversas com o depoente que não deixaria Ana Paula em paz enquanto ‘não acabasse com ela'”, descreve o documento.
Ainda conforme consta no termo de depoimento do ex-empregado, ele confirma que Zebral é “nervoso e agressivo”, formas que ele também tratava a empresária e outras mulheres com quem havia se relacionado.
“Que várias vezes viu Ana Paula com machucados no rosto, nas mãos e braços, e Ana Paula lhe contava que havia sido agredida por Helder. Que após a separação do casal o depoente não quis trabalhar com Helder e continuou trabalhando com Ana Paula. O depoente afirma que Helder sempre faz ligações para Ana Paula […] Que Ana Paula comentava após as ligações que Helder havia ameaçado tomar seus bens e também de morte.”
O casal se relacionou por 15 anos, e estão há cinco separados. “Eu fui casada com um monstro. Já sofri violências psicológicas, patrimoniais, físicas, só falta me matar. Tenho sofrido com stalking há 5 anos. Desde que nos separamos, ele não me deixa viver. Eu tenho medida protetiva, já o denunciei na [lei] Maria da Penha”, revelou Ana Paula ao Metrópoles.
“Por ser um empresário muito rico, nada aconteceu, infelizmente. Todas as evidências [sobre a invasão da propriedade] levam a ele”, completou a dona da fazenda.
Zebral nega todas as acusações (leia abaixo).
Stalking
O delegado José Antônio Sena confirmou que, além da investigação complementar no caso da invasão da propriedade, foi aberta outra pelo crime de stalking – forma de violência na qual o suspeito invade repetidamente a vida privada da vítima, por meio da reiteração de atos de modo a restringir a liberdade ou atacar a privacidade ou sua reputação.
“As investigações estão em curso. Vamos ouvir mais testemunhas, apurar com mais profundidade os fatos apresentados”, ressaltou Sena.
Ainda de acordo com o delegado, como o inquérito inicial havia sido concluído, o caso deve ser analisado de forma mais contundente.
“O suspeito prestou depoimento e nega todas as acusações. Ele se colocou à disposição da Polícia Judiciária para fins de qualquer informação. Caso o envolvimento nos crimes seja comprovado, ele vai responder por todos como mandante do crime, autoria mediata”, pontuou o investigador.
“Calúnia”
Em nota, a defesa do suspeito informou que ele registrou ocorrência policial contra a ex-esposa por denunciação caluniosa.
“Acerca da suposta investigação de stalking, reiteramos que não temos conhecimento de que o senhor Helder tenha sido indiciado. Mas aproveitamos o espaço para negar qualquer acusação e registrar que já foi arquivada, há alguns anos, uma investigação perante a Delegacia da Mulher de Brasília em que se analisavam os mesmos fatos reiterados pela senhora Ana Paula.”
De acordo com o advogado Bruno Macedo, “a suspeita é de que os rumores são mais uma tentativa de a senhora Ana Paula coagir o senhor Helder a fazer algum acordo financeiro com ela, visto que tiveram um relacionamento amoroso e possuem alguns processos em andamento no Judiciário”.
“Assim, para a defesa do senhor Helder, está muito claro que ele é que vem sendo vítima de perseguição, a fim de ser coagido a favorecer, de algum modo, a senhora Ana Paula. Como nunca cedeu às chantagens, agora, tudo indica que a senhora Ana Paula pretende denegrir a imagem dele através da imprensa”, argumenta a nota encaminhada ao Metrópoles.
Relembre o caso
A fazenda situada na região do Vale da Lua, na Chapada dos Veadeiros, foi invadida em 20 agosto deste ano por um grupo de sete pessoas armadas. Segundo a ocorrência, os suspeitos foram até o local em veículos particulares, mas com uso de sirene e giroflex. Ao chegarem à propriedade, abordaram os caseiros e “disseram que eram policiais e estavam no local para cumprir um mandado de reintegração de posse”.
De acordo com o delegado, no momento da invasão, que teve o emprego de violência, os caseiros pediram a documentação e entraram em contato com a “possuidora do local”, que seria a patroa deles. De imediato, a mulher acionou a Polícia Militar de Goiás, e os suspeitos saíram da chácara em “rumo incerto”.
Quando os policiais militares chegaram ao local, iniciaram patrulhamento intensivo e localizaram e prenderam o grupo próximo a uma rodovia. Entre os sete detidos havia um policial militar da reserva do Distrito Federal, um guarda civil municipal e um instrutor de tiro da Guarda Civil Municipal de Planaltina de Goiás.
Após serem levados para a delegacia, apenas um dos sete suspeitos ficou preso, por porte ilegal de arma.
Em nota, a defesa de Carla Vasconcelos afirmou que “é fantasiosa a versão de que a empresária mantenha qualquer vínculo com o Senhor Helder Zebral”. Conforme a nota, a defesa aponta que “o imóvel, em verdade, foi objeto de invasão promovida por Ana Paula Gonçalves, em março do corrente ano, em contraponto à Decisão Judicial que lhe impedida de imitir-se na posse conforme pretendia”.