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Poder e fé: evangélicos são os mais governistas da Câmara Federal

(M)Dados apurou a religião de todos deputados e fez o cruzamento com as votações. Resultado sai nesta série de cinco reportagens

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atualizado

Apesar de constitucionalmente o Brasil ser um país laico, política e religião sempre estiveram ligadas na história do país. A recente ascensão de um presidente da República declaradamente cristão deixou essa relação ainda mais evidente. A fim de verificar o quanto as leis brasileiras são influenciadas pela crença dos parlamentares, o Metrópoles analisou as votações na Câmara Federal no primeiro ano de gestão de Jair Bolsonaro (sem partido). O resultado estará nas cinco reportagens da série Poder e Fé.

O (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do portal, entrou em contato com todos gabinetes de deputados, primeiro por e-mail e depois por telefone, para perguntar qual era a religião do parlamentar. Ao fim de quatro meses de apuração, 503 responderam à pergunta. Desse total, dois preferiram não se posicionar.

Com essas informações reunidas em uma base de dados, a reportagem verificou como os deputados de cada religião se posicionaram nas votações de 2019, tendo como parâmetro a orientação do líder do governo em cada uma. A primeira conclusão é que os evangélicos são os que mais seguem a indicação governista.

Os católicos são o maior grupo da Câmara, mas obedeceram a vontade do presidente pouco mais da metade das vezes. A média apurada foi de 52,73%. Esse percentual só não é menor que o dos parlamentares que se declararam sem religião. Eles votaram de acordo com a orientação em apenas 32,45%.

 

Governistas pragmáticos

Os que se identificaram como evangélicos seguiram a orientação do representante de Bolsonaro na Câmara dos Deputados 61,03% das vezes, em média. Para se chegar ao número, primeiro foi calculada a porcentagem de fidelidade ao governo em cada votação e, em seguida, a média das votações.

Apesar da afinidade temática entre a bancada evangélica e o governo federal, o professor de ciência política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Monteiro aponta que o grupo é mais “pragmático do que programático”.

O especialista lembra que o governismo do grupo vem de outras gestões. “A Dilma [Rousseff] (PT) tinha pauta identitária muito forte e foi apoiada pelos evangélicos. Lula também. Eles se unem na pauta de valores, mas têm um lado pragmático muito acentuado. Não foram oposição nem a Lula, nem a Dilma”, pontua.

Esse governismo aliado à grande quantidade de deputados – ou votos – concede um poder significativo ao grupo. “Eles atuam de forma organizada no Congresso, o que também confere eficácia”, diz Aldo Fornanzieri, professor de ciência política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Ele destaca que a bancada religiosa tenta avançar sobre todos os Poderes. “Eles estão em campanha para dominar o Supremo Tribunal Federal. É um compromisso do presidente Jair Bolsonaro nomear alguém ‘terrivelmente evangélico’ para a próxima vaga”, avalia .

Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Bolsonaro participa de culto religioso na Câmara. “Deus acima de todos.”

Grupos

O termo evangélico é um guarda-chuva que reúne grupos com diferenças relevantes entre si. A mais significativa está entre as igrejas pentecostais, que surgiram no começo do século 20, e as neopentecostais, que são mais recentes – a palavra foi cunhada na década de 1970.

Caso seja feita a separação entre os dois segmentos, descobrimos que ambos se comportaram de maneira similar. Neopentecostais seguiram a orientação do governo 61,15% das vezes, enquanto os pentecostais, 60,9%.

Diferenças surgem quando são analisadas denominações específicas. Deputados da Assembleia de Deus seguiram a orientação governista 62,14% das vezes. Já os parlamentares que comungam na Igreja Batista estão na outra ponta, seguindo a indicação 55,9%.

O Metrópoles questionou a religião dos deputados federais com o compromisso de não identificar a fé de cada um. A informação serve apenas para alimentar a base de dados, que foi cruzada com os resultados de votações na Câmara e os discursos feitos pelos parlamentares, entre outros. Para isso, foi utilizada a linguagem de programação Python tanto para obter os dados do parlamento através de sua API quanto para levantar as informações e fazer as análises necessárias.

O resultado de todo esse trabalho poderá ser lido a partir de hoje na série Poder e Fé. Além de apurar qual grupo é mais governista, o levantamento também busca descobrir se a Câmara representa fielmente a população quando a questão é religião, qual grupo é mais coeso nas votações, como os diferentes grupos religiosos se dividem nas frentes parlamentares e quais temas estão mais presentes em seus discursos.

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