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“Pobreza menstrual é problema de saúde pública”, diz coordenadora da Girl Up Brasil

Graziella Carvalho afirma que o passo inicial para o combate é reconhecer a questão como problema de saúde pública

atualizado

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1 de 1 absorventes - Foto: Pixabay

Cerca de 30% da população do Brasil menstrua, mais de 1,5 milhão de brasileiras vivem em residências sem banheiro e, entre as jovens, uma em cada quatro mata aula por não ter condições de menstruar com dignidade. Os dados, do relatório Livre para menstruar – Pobreza menstrual e a educação de meninas, publicado neste ano pelo movimento Girl Up Brasil e a empresa brasileira Herself, viraram tema de debate nesta última semana após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetar a distribuição de absorventes a estudantes pobres e mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica no país.

“A gente está falando diretamente de 321 mil alunas estudando em escolas onde não possuem banheiros em condições de uso. Estamos falando de 1,24 milhão de meninas frequentando escolas sem distribuição de papel higiênico no banheiro. Assim como os estudantes precisam de papel higiênico no banheiro, também precisam de absorvente as estudantes que menstruam”, relatou a coordenadora de programas da Girl Up Brasil, Graziella Carvalho.

Para ela, o primeiro passo para a resolução do problema é encará-lo como é: um problema de saúde pública. “Menstruação é um processo biológico natural do corpo humano que precisa ser naturalizado, conversado em casa, nas escolas e tratado como saúde pública pelos nossos governantes”, ressaltou.

O tema surgiu para a rede de líderes durante da pandemia, quando perceberam que o absorvente foi item essencial de higiene dispensado nas cestas básicas distribuídas para o combate à pobreza. Graziella reforça que o fato exclui uma realidade comum no país: a maioria das pessoas em vulnerabilidade são mulheres e meninas com ciclo menstrual mensal. E mais: pesquisas indicam que, ao longo da vida, uma mulher gasta de R$ 3 mil a R$ 8 mil só comprando absorvente.

Letícia Castro, articuladora da campanha nacional Cadê meu absorvente? – feita para apoiar o PL 4.968/2019, de autoria da deputada Marília Arrais (PT-PE) –, relembra que desde 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à higiene menstrual um direito a ser tratado como questão de saúde pública e direitos humanos.

Derrubada do veto

Parlamentares, organizações, coletivos e instituições criticaram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo veto à distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias.

A bancada feminina se articula para derrubar a decisão. O Me Too Brasil também publicou ofício no qual pede a derrubada do veto do presidente. Encaminhado ao Congresso Nacional nesta sexta-feira (8/10), o documento foi assinado por dezenas de entidades que manifestam a impropriedade jurídica do veto.

No texto, eles reafirmam o interesse público envolvido na aprovação da medida e dizem que é inaceitável que o Brasil não possua medidas públicas para combater a situação de pobreza menstrual “que afasta meninas, mulheres e outras pessoas que menstruam do ambiente escolar e de atividades laborais”.
“Bolsonaro mostra que não tem nenhum pingo de sensibilidade com as mulheres. Ele deixa claro toda a sua misoginia com esse veto. Não podemos nos calar, pois estamos tratando da vida, da dignidade de milhares de mulheres. Esse veto é um atentado contra todas nós e por isso não perdemos nenhum minuto”, afirmou Marília Arraes (PT-PE), autora do projeto que cria o Programa Nacional de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. “Vamos derrubar esse veto absurdo”, completou.
A coordenadora da bancada feminina, deputada Celina Leão (PP-DF), destacou que o projeto foi aprovado com apoio de todas as bancadas na Câmara e no Senado. “Nós conseguimos montar um projeto de lei que tivesse um impacto financeiro mínimo, para começar. Nós tínhamos que garantir a todas essas mulheres o acesso a esse tipo de material, que não é só um kit de higiene e limpeza, mas é um kit de saúde”, disse. “Muitas mulheres pegam infecção porque não conseguem ter o uso adequado dos absorventes, o que pode se agravar, fazendo com que essas mulheres cheguem ao SUS com outros tipos de doenças crônicas também”, acrescentou.

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