PMs são indiciados por matar jovem de 28 anos levado em viatura
Vídeo flagrou momento em que jovem foi colocado em camburão da viatura. Horas depois ele foi morto após suposto confronto com os mesmos PMs
atualizado
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Goiânia – A Polícia Civil de Goiás, por meio da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), concluiu o inquérito que investiga a morte de Henrique Alves Nogueira, 28 anos, morto em um suposto confronto com equipe do Tático do 7º Batalhão da Polícia Militar de Goiás (PMGO).
Os quatro policiais militares envolvidos no caso foram indiciados pelos crimes de homicídio doloso qualificado, fraude processual e falsidade ideológica. O caso aconteceu em 11 de agosto deste ano, na capital goiana. Câmeras de segurança flagraram o momento em que policiais militares colocaram Henrique em uma viatura. Horas depois, o rapaz foi encontrado morto.
Veja o vídeo:
Falso confronto
No dia do crime, os policiais registraram ocorrência de confronto com morte por intervenção policial de pessoa não identificada (posteriormente reconhecida como sendo Henrique), às 20h11, no Parque Real Conquista. Porém, as imagens às quais a PCGO tiveram acesso mostram que a vítima foi abordada no mesmo dia, por volta das 8h22, no Jardim Europa, última vez em que foi vista com vida.
Segundo o delegado que investiga o caso, André Veloso, as imagens gravadas revelam que não foram encontradas arma e drogas com Henrique na abordagem pela manhã. Ele foi colocado na viatura sem portar qualquer mochila ou sacola.
“Vizinhos comentaram que o preso gritou no momento da detenção, pedindo para os populares não deixarem a PM levá-lo”, informa trecho de depoimento de testemunha anexado ao inquérito do caso ao qual o Metrópoles teve acesso.
Qualificadoras
Ao Metrópoles o delegado Veloso informou que os policiais tentaram forjar o Registro de Atendimento Integrado (RAI) e não informaram que tinham abordado Henrique em outra ocasião. “Eles [os policiais] confeccionaram um RAI como se a abordagem tivesse sido casual e como se eles não soubessem quem era a vítima. Essa inserção e omissão em documento público caracteriza o crime de falsidade ideológica”, disse o investigador.
De acordo com o delegado, uma testemunha sigilosa afirmou que Henrique teria relatado uma abordagem da equipe do tático, cerca de 60 dias antes do fato e que tinha fugido levando consigo as algemas. O jovem também comentou que estava sofrendo ameaças por parte de policiais do Tático do 7º BPM.
“Os policiais não confessaram o crime. Contaram que o soltaram após a abordagem e, depois, por conta de uma informação de informante, reencontraram Henrique na ocasião do confronto. Todavia, depois de ser abordado, Henrique não foi mais visto com vida. O homicídio foi qualificado por motivo torpe (justiçamento) e impossibilidade de defesa da vítima”, conclui.
Rigor
Os policiais indiciados são: sargento Cleber Leandro Cardoso; cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, 31; soldado Kilber Pedro Morais Martins, 34; e soldado Mayk da Silva Moura Sousa, 29.
Por meio de nota, a defesa dos policiais informou que “não irá comentar sobre os laudos mencionados nas reportagens, isso pelo fato de não ter acesso integral às provas produzidas no inquérito policial”.
Ainda de acordo com os advogados José Patrícia Júnior e Antônio Celedonio Neto, o vídeo reproduzido pelos meios de comunicação será encaminhado para uma perícia “a fim de verificar e constatar de forma inequívoca o horário da abordagem”. No documento, a defesa diz que a abordagem e o óbito foram em horários distintos, o que deve ser apurado pela autoridade policial.