PM pede demissão após ser assediada por tenente-coronel, em São Paulo
Jéssica Paulo do Nascimento diz que vai se dedicar a projetos que prestam atendimento a vítimas de assédio sexual e moral
atualizado
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São Paulo – Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, resolveu deixar a Polícia Militar e se dedicar a projetos que prestam apoio a pessoas que sofreram assédio sexual – como o que ela vivenciou onde trabalhava, no 45º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
A ex-PM afirmou ao G1 que resolveu deixar o cargo devido à pressão que estava sofrendo dentro da corporação, com a repercussão que sua acusação teve na mídia. Jéssica denunciou o tenente-coronel da PM Cássio Novaes por assédio sexual e ameaças de morte e de estupro.
“Eu quero levantar essa bandeira, criar projetos para poder acolher essas mulheres, e também homens. Porque eles também passam por assédio moral, e até mesmo sexual. E são pessoas que não têm com quem contar, com quem falar, porque o sistema é muito difícil”, afirmou Jéssica.
A ex-soldado enfatiza que o assédio moral e sexual acontece em outras instituições e trabalhos. Por isso, Jéssica almeja ampliar as reivindicações contra esse tipo de violência. “Quero incentivar e dar voz a essas pessoas, para que elas denunciem”, disse.
“Antes, eu não sabia exatamente como era viver isso, porque nunca tinha passado por essa situação. Hoje, sei exatamente o que essas pessoas passam. Então, acredito que eu possa fazer alguma coisa em favor dessas vítimas”, afirma a ex-PM.
Denúncia
Após denúncia, feita em abril deste ano, o tenente-coronel foi afastado da PM e está sendo investigado pela corregedoria. A investigação corre sob segredo de Justiça.
O assédio à Jéssica começou em 2018, quando seu superior a chamou para sair. Embora ela tenha dito que é casada, ele não parou as investidas e passou a ameaçá-la. Segundo a ex-PM, Novaes a humilhava na frente de outros policiais e a sabotava na corporação. “Foram coisas muito baixas. Me ameaçou de estupro e de morte”, afirma Jéssica.
A PM
A Polícia Militar de São Paulo afirmou que recebeu a denúncia e imediatamente instaurou um inquérito policial militar para apurar rigorosamente os fatos. O órgão afirmou que afastou o oficial do batalhão e que a investigação é conduzida pela corregedoria.
Quanto à pressão que Jéssica diz ter sentido e justificado a demissão, a corporação afirmou que o pedido de exoneração é de autonomia exclusiva de um policial militar e dentro dos trâmites administrativos legais.
Sobre as advertências, a PM informou que qualquer punição administrativa, quando aplicada, segue o rito legal e o direito constituído à ampla defesa preceituado no Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (RDPM).