PM atira em fiel após discussão política em igreja evangélica de Goiás
Líder de igreja em Goiânia (GO) começou a pedir nos cultos para que os fiéis não votem em partidos “vermelhos”. Fala gerou revolta em alguns
atualizado
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Goiânia – Um homem de 40 anos foi baleado dentro de uma igreja evangélica em Goiânia, nessa quarta-feira (31/8), após uma confusão que teria sido provocada por divergências políticas.
O caso ocorreu na igreja Congregação Cristã no Brasil (CCB), localizada no Setor Finsocial, bairro da região noroeste da capital goiana. O autor do disparo foi um cabo da Polícia Militar de Goiás (PMGO), que também frequenta o local, identificado como Vitor da Silva Lopes, 37.
As discussões entre os fiéis teriam começado há cerca de um mês, segundo parentes da vítima, depois que ele e um irmão passaram a se posicionar contra as falas políticas do líder da igreja. O pastor começou a pedir para que os integrantes da Congregação não votem em partidos “vermelhos”.
A vítima, Davi Augusto de Souza (foto), foi atingida por um tiro na perna. O caso aconteceu à noite, durante o culto evangélico. De início, houve tumulto e desespero, a celebração foi paralisada, mas logo em seguida o culto foi retomado e continuou, como se nada tivesse acontecido.
Veja:
Uma equipe da Polícia Militar esteve no local e fez o registro da ocorrência. Socorristas do Corpo de Bombeiros foram acionados e levaram Davi para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Família contesta ocorrência
No registro da PM, não há menção à questão política. É dito, somente, que a vítima e o irmão teriam entrado em luta corporal com o policial e que o cabo, para se desvencilhar de um deles, pegou a arma e efetuou o disparo.
O irmão de Davi, o bacharel em Direito Daniel Augusto, de 45 anos, que estava no local, apresenta uma versão diferente. De acordo com ele, o cabo é quem teria iniciado a discussão, dando socos nele e no irmão.
Em seguida, o policial sacou a arma e teria tentado atirar mais de uma vez contra Davi. O revólver, no entanto, teria falhado na maioria das tentativas.
Diante das divergências entre uma versão e outra, a PMGO informou que instaurou um procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do ocorrido.
Reação a uma entrevista
Daniel acredita que a agressão tenha sido uma reação a uma entrevista que ele deu para um jornal local, há uma semana, e que teria contribuído para o enfraquecimento do pastor dentro da igreja.
Na reportagem, ele denunciou o líder da Congregação, diante das falas recorrentes dele sobre política durante os cultos. De acordo com o bacharel em Direito, o ancião passou a indicar em quem os fiéis deveriam votar.
Os dois chegaram a travar um embate direto na igreja. Em uma das celebrações, Daniel levantou a mão e pediu que o pastor parasse de falar sobre política e falasse mais sobre Jesus. Nesse momento, o pastor teria retrucado e o chamado de “demônio” e “rebelde”.
Uso político
O Metrópoles tentou contato com o representante da igreja, mas não conseguiu localizá-lo. Apesar de o estatuto da CCB vedar o uso do nome da igreja para fins políticos, um documento elaborado pela direção nacional, e publicado recentemente, deixa essa questão em aberto.
“Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, orienta o documento.