Plano de transição da intervenção Federal no Rio começa em outubro
General Braga Netto quer deixar uma agenda positiva como legado para aplicação em outros estados
atualizado
Compartilhar notícia
A transição do comando da intervenção federal no Rio de Janeiro para as corporações e secretarias do estado da área de segurança já está planejada. Segundo o interventor, general Walter Braga Netto, a partir de outubro começa o trabalho de transição. A aquisição de equipamentos termina em dezembro, junto com a intervenção, e a desmobilização logística, patrimonial e contábil está programada para ser feita de janeiro a junho de 2019.
De acordo com o general, todo o trabalho está sendo planejado em conjunto com Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, instituições que integram os grupos de trabalho do Gabinete da Intervenção Federal (GIF).
“Nós já estamos com o plano de transição e legado prontos, estamos revisando. Outubro, novembro e dezembro é a transição, término das aquisições e continuação das medidas estruturantes. Pelo decreto, a intervenção acaba aqui [em dezembro], mas de janeiro a junho desmonta-se o gabinete e fica um núcleo para poder fazer essa transição.”Braga Netto participou nesta quarta-feira (13/6) de um seminário sobre a intervenção na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), onde falou por mais de uma hora sobre o trabalho do gabinete. Após a apresentação, ele não conversou com a imprensa. Segundo a assessoria do GIF, Braga Netto vai apresentar o planejamento nesta quinta (14) ao presidente Michel Temer.
O general destacou que pretende deixar uma agenda positiva como legado, com procedimentos que poderão ser replicados em outros estados, como a integração das inteligências e o fortalecimento das corregedorias das polícias, que já foram feitas no Rio.
“Eu não tenho dúvida de que a intervenção dará certo, vai ser um case de sucesso. Criticam que para tudo o que foi feito não precisaria da intervenção. Mas não foi feito! Tem que ver a situação financeira do estado, que não podia receber dinheiro, talvez sem a intervenção não houvesse conseguido chegar nesses resultados. Me perguntam se a intervenção tem que se repetir nos outros estados? Não. O método sim, mas não há necessidade de prosseguimento, desde que se siga o método e dê continuidade”.
Observatório
A socióloga Sílvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção também participou do seminário e disse que as operações têm sido feitas com muito efetivo e pouco resultado prático em termos de prisões e apreensões. A instituição representada por ela reúne várias entidades da sociedade civil e faz o acompanhamento diário dos trabalhos na segurança pública desde fevereiro,
“Ministros e secretários disseram que haveria grandes reestruturações, mas nem os comandantes locais dos batalhões mais problemáticos, mais violentos e mais suspeitos de corrupção estão sendo modificados. Então dá a impressão que está sendo feita muita operação, muito tiro, produzindo até mais mortes do que antes e que poucas mudanças estruturais estão sendo realizadas. Ou seja, estamos utilizando pouca inteligência, pouca mudança de estrutura, muito confronto e muito tiroteio”.
Em abril, o relatório de dois meses da intervenção mostrou que o número de chacinas dobrou e o de tiroteios aumentou 15,6%, deixando 294 mortos e 193 feridos.
Segundo Sílvia, alguns índices de criminalidade diminuíram no período, mas o relato dos moradores da Vila Kennedy, por exemplo, é o de que após a saída dos militares da comunidade o tráfico voltou com mais força do que estava, com mais armas e impondo terror aos moradores. Para ela, é preciso repensar a estratégia.
“É colocar uma polícia de proximidade, colocar uma polícia que vai ficar, não são operações espetaculares, não é entrar e sair, nós sabemos isso no Rio de Janeiro há muitos anos. Não é por acaso que na época que as UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora] funcionaram as primeiras dez, 15 ou no máximo 20, os crimes não só contra a vida, mas contra o patrimônio despencaram, aquilo produziu um efeito de que era para valer e era para ficar”.
O subchefe do GIF, general de brigada Paulo Roberto Pimentel, diz que as chamadas “operações faraônicas” são, na verdade, o modus operandi militar e que isso tem gerado efeito positivo. “A gente fala que havia um certo desrespeito da criminalidade pela autoridade do Estado e isso se refletia no desejo de enfrentamento com o policial, até mesmo como primeira opção do criminoso. Esse tipo de operação evita esse confronto. O objetivo é esse, cumprem-se os mandados que foram exarados para aquela operação. A operação não é retirada do nada, sempre tem uma finalidade por trás. Não pode fazer essa comparação entre o número de efetivo e o de presos”.