Plano de recuperação judicial da Americanas inclui venda de avião e aporte de R$ 10 bi
Etapa é mais um passo para evitar falência da Americanas e envolve pagamento por parte dos sócios e venda de ativos, como avião de R$ 40 mi
atualizado
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A Americanas cumpriu mais um passo para a recuperação judicial iniciada em 19 de janeiro deste ano. Com dívidas de R$ 43 bilhões, a empresa entregou o plano dessa recuperação à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
O processo é necessário para que a varejista renegocie os débitos com seus mais de 16 mil credores. O objetivo é evitar um processo de falência e tentar manter a atividade econômica da empresa, impedir a demissão de funcionários e o calote em credores.
A apresentação do plano de pagamento dos débitos aconteceu na segunda-feira (20/3), data-limite exigida pela Justiça. Agora, o plano será discutido com credores e as condições poderão ser alteradas ao longo das conversas.
A quitação dos débitos envolve o pagamento de R$ 10 bilhões por parte dos empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, além da venda de passivos e outras operações.
Um avião no valor de R$ 40 milhões, por exemplo, pode ser vendido para abater na dívida. O mesmo aconteceria com unidades de negócios, como a Hortifruti Natural da Terra, e a participação em outras empresas, como o Grupo Uni.Co (do qual a Imaginarium faz parte). Ao todo, esse tipo de operação alcançaria R$ 2 bilhões.
A emissão de títulos de dívida (debêntures simples) de até R$ 5,9 bilhões e a conversão dessas dívidas em ações também podem fazer parte do plano. A ideia é que pequenos credores e trabalhadores sejam pagos em 30 dias. Já bancos, fornecedores e outros credores maiores podem demorar até março de 2043 para receber.
O processo
Nos processos em que o endividamento é muito elevado, é comum que haja o perdão de parte dos débitos, prática chamada pelo mercado de “haircut” (expressão que, em inglês, significa “corte de cabelo”). Ou seja, os credores abrem mão de parte dos valores a receber com o propósito de receber algo.
Pode não ser o caso da Americanas, uma vez que os problemas atuais possivelmente foram originados em uma fraude contábil. Além disso, os sócios Lemann, Sicupira e Telles têm um patrimônio que soma mais de R$ 160 bilhões.
Com cerca de 40 mil funcionários e 3,6 mil lojas, uma eventual falência da Americanas atingiria 3.600 credores, entre bancos e fornecedores. Isso sem falar no passivo trabalhista.
A recuperação judicial da Americanas é uma das maiores já feitas em solo brasileiro. Para se ter ideia, a recuperação judicial da Oi, que levou seis anos para ser concluída, envolvia dívidas de R$ 60 bilhões.
É possível pagar a dívida?
O drama da situação atual é que a geração de caixa da Americanas não parece ser suficiente para fazer frente a uma dívida tão grande quanto a de R$ 43 bilhões.
“Cálculo básico: o Brasil tem juros básicos na casa dos 14%, então uma dívida de R$ 43 bilhões gera um custo financeiro de mais de R$ 4 bilhões ao ano. A Americanas não gera nem R$ 2 bilhões de caixa anualmente. É uma conta que não fecha”, explica um analista do mercado financeiro que pediu anonimato.
Os números parecem dizer que possivelmente nem as facilidades de negociação providas por um processo de recuperação judicial serão suficientes para a empresa alongar e pagar suas dívidas.
Se na semana passada, quando a empresa admitiu que tem uma diferença contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço (daí a raiz de todos os problemas e da multiplicação da dívida), parecia muito improvável que um negócio do tamanho da Americanas viesse a falir, agora gestores e analistas já não acreditam mais na tese de “too big to fail” (ou, traduzindo a expressão em inglês, grande demais para falir).
É esperado que, com uma dívida desse tamanho, a Americanas seja obrigada também a vender parte de seus negócios. Entre os prováveis candidatos a negociação estão o Hortifruti Natural da Terra, adquirido pela varejista em 2021, e uma rede de conveniência de postos de combustíveis.
A questão é que, se vender esses negócios, a Americanas terá menos fontes de receita e a geração de caixa tende a ser menor ainda. Com menos caixa, menor a chance de pagar as dívidas. É um círculo vicioso.