Planilha mostra que governo tem só 237 votos na Previdência
Às vésperas da votação da reforma na Câmara dos Deputados, números apontam que Planalto está longe dos 308 votos necessários
atualizado
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A poucos dias da votação da reforma da Previdência na Câmara, o governo conseguiu contabilizar, no máximo, 237 deputados favoráveis à proposta, segundo planilha de cruzamento de votos obtida pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Aliados do governo têm dito possuir 270 votos, mas o cenário mostra que o caminho a ser trilhado é ainda maior. Para conseguir aprovar a proposta, são necessários 308 votos em dois turnos de votação.
A contagem mais recente, que aponta os 237 votos, foi feita no Palácio do Planalto, com assessores do ministro Carlos Marun e do vice-líder do governo na Câmara Darcísio Perondi (MDB-RS), em 29 de janeiro, segundo anotação registrada na planilha.Levantamentos anteriores, realizados em dezembro, oscilaram entre 212 e 230 votos a favor.
A contagem que aponta o menor número de votos é creditada ao deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara e um dos “planilheiros” do governo em votações relevantes. Nesse levantamento, foram contabilizados 208 votos contrários, mais que o suficiente para enterrar de vez a proposta.
Mansur disse à reportagem que a contagem feita por ele – a qual mostrava 212 votos favoráveis – é antiga. Insistiu que, hoje, o governo tem cerca de 270 votos. “Faltam aproximadamente 40 votos para a aprovação, podemos recuperar durante esta semana”, afirmou. O deputado aposta na capacidade de convencimento dos presidentes de partidos, que, nos próximos meses, determinarão a forma como serão divididos os recursos do fundo eleitoral para as campanhas.
Procurado, Marun não negou a informação sobre a contagem, mas argumentou que o governo já tem “bem mais votos do que isso”. “Teremos os votos para vencer”, garantiu.
Cruzamento
O governo está fazendo um cruzamento das contagens para tentar identificar com maior precisão a tendência de voto dos deputados e intensificar o corpo a corpo sobre os indecisos.
O documento contém histórico de votações da reforma trabalhista, impressões sobre como deve ser feita a abordagem e ainda deixa clara a contribuição de entidades empresariais no trabalho de contagem dos votos e de convencimento dos parlamentares.
A lista apresenta recados como “funcionário [público], não adianta”, no caso de um deputado de partido aliado que é servidor e apresenta tendência de voto contrário. Um dos motes da campanha do governo para aprovar as mudanças na Previdência é o “combate a privilégios”, focado justamente no funcionalismo
Outras anotações que aparecem na planilha são “cair o mundo em cima” ou “merece pressão”, no caso de parlamentares indecisos. Há também um deputado aliado que ganhou a alcunha “sempre quer mais” nas negociações com o governo – ele aparece como indeciso na planilha.
Há observações sobre “quem vai em cima” do deputado para convencê-lo a votar a favor da reforma. Essa atribuição recai sobre ministros, líderes de partidos na Câmara e entidades empresariais, inclusive estaduais, que ficam responsáveis por conversar com parlamentares de seus estados.
Apesar do cenário desfavorável apontado nos levantamentos, a avaliação é de que há outros 70 deputados indecisos com “tendência” de votar pela aprovação da reforma, segundo uma fonte do governo que participa das negociações.
Negociações
O presidente Michel Temer negociou nesse domingo (4/2_ mudanças na reforma da Previdência, com o objetivo de conseguir os 308 votos necessários para aprovar o texto na Câmara. Entre as alterações, estão o aumento do teto para o acúmulo de benefícios e uma regra de transição de 10 anos para os servidores que ingressaram antes de 2003. Participaram do encontro os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e o da Secretaria-Geral, Moreira Franco, e o relator da reforma Arthur Maia (PPS-BA).