Pilotos “roubam” água de piscina durante combate a incêndios
Além de problemas de saúde e perigo à flora e fauna brasileiras, incêndios levam risco de vida para pilotos que tentam combatê-los pelo ar
atualizado
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O fogo e a fumaça que consomem vegetações em várias regiões do país, além de trazer riscos à saúde, flora e fauna brasileiras, ainda são um perigo para quem tenta combatê-los pelo ar. “Quanto mais quente o ar, ele fica menos denso e a sustentação [da aeronave] é menor. A aeronave perde a sustentação”, explica Daniel Quintella, piloto do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Secretaria da Casa Militar (Notaer), em entrevista ao Jornal Nacional.
Quando há fogo, a densidade do ar muda; por isso, a condição do voo é afetada. Com a instabilidade causada por menos sustentação da aeronave, o helicóptero não pode parar enquanto despeja água em uma vegetação em chamas, por exemplo.
O helibalde, recipiente usado para combater as chamas, carrega até de 800 litros de água e pode ser reabastecido, até mesmo, em piscinas. A equipe do Jornal Nacional mostra o momento em que a equipe retira água de uma piscina para combater um incêndio. Veja:
Porém, para que a aeronave consiga carregar mais água, ela precisa estar mais leve. Por isso, o helicóptero leva menos combustível e tem de abastecer mais vezes.
Para combater o fogo em vegetações no Espírito Santo, que é o dobro de todo o ano de 2023, os pilotos precisam atender uma série de procedimentos de segurança, como, por exemplo, seguir rota diferente da habitual e voar mais alto para desviar da fumaça acumulada entre o chão e as nuvens.
“A gente tem preferido furar para cima da camada de nuvens para voltar a uma visibilidade melhor. A gente voa no mínimo a 150 m de altitude em relação ao terreno. Quando a gente volta por cima da camada de nuvens, a gente voa cinco a dez vezes mais alto que isso”, diz o piloto Daniel Quintella.
Outra estratégia para garantir a segurança dos pilotos tem sido o uso de um sensor de calor, instalado na parte de baixo da aeronave. O equipamento, diferente do olho humano, consegue localizar o foco de incêndio mesmo em grande altitudes – ele pode identificar uma queimada a mais de 70 km.
Queimadas
Apenas no Espírito Santo, o mês de setembro registrou quase 200 queimadas. Para o diretor do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema), ouvido pelo Jornal Nacional, a maioria delas não é acidental.
“O fogo espontâneo acontece com raio e com algum fator, com algum elemento, que está ali no meio daquela mata, como alguma secura extrema e temperatura muito elevada em um período específico do dia, onde o calor está muito intenso. A gente está vendo focos iniciando de madrugada, de noite, de manhã cedinho, e isso não é normal, isso não é ignição espontânea”, afirma Mário Louzada.
De acordo com o governo federal, desde o início de setembro, o efetivo que atua diretamente no combate aos incêndios no Pantanal, na Amazônia e no Cerrado foi dobrado. São 3,5 mil agentes do Ibama, ICMBio, Forças Armadas e Força Nacional de Segurança Pública atuando em 148 municípios que estão em situação de calamidade ou de emergência por causa dos incêndios.