Pfizer chamou governo para negociar vacinas em 2022 e 2023
OMS alertou que coronavírus será endêmico, exigindo vacinação periódica. Governo brasileiro iniciou tratativas para próximos anos em junho
atualizado
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Depois de ter uma série de ofertas ignoradas pelo Brasil no ano passado, a Pfizer propôs ao governo federal “iniciar no mais curto prazo possível” as conversas para a compra de vacinas contra a covid-19 visando 2022 e 2023.
O relato é feito pela cônsul-geral do Brasil em Nova York, nos Estados Unidos, embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, sobre reunião com o vice-presidente sênior para política global da Pfizer, Jon Selib, em 27 de abril deste ano, segundo informações obtidas pelo portal Uol.
Telegrama sobre o encontro, a convite da embaixadora, foi enviado ao Itamaraty. O ministério, por sua vez, encaminhou o documento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.
Na conversa, Maria Nazareth afirma ter feito um “apelo para que a Pfizer priorize o Brasil no seu esforço de acelerar a produção e aumentar a oferta de vacinas contra a Covid-19”.
“[Jon Selib] Agradeceu a iniciativa do encontro e convidou o governo brasileiro a iniciar no mais curto prazo possível conversas sobre vacinas para 2022 e 2023. Mas não deixou de dizer que ficaria atento a eventuais oportunidades ainda no ano em curso”, disse a embaixadora.
A sugestão do vice-presidente da Pfizer para que o governo passasse a negociar mais doses se embasou em alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o novo coronavírus deve se tornar endêmico, exigindo uma vacinação periódica. Essa perspectiva de que o vírus não seja extinto, mas controlado com uma série de medidas, é citada pela própria embaixadora em seu texto.
Em junho, o governo federal iniciou as tratativas com a Pfizer a fim de adquirir vacinas contra a Covid-19 para o ano de 2022. No último dia 14, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participaram de videoconferência com a CEO do laboratório no Brasil, Marta Díez.
Ainda de acordo com Maria Nazareth, o executivo da Pfizer afirmou que a empresa tem “interesse em seguir oferecendo vacinas e medicamentos ao governo brasileiro” e reconheceu que o Brasil é “muito importante para a empresa, um dos seus maiores mercados”.
Ofertas ignoradas
A série de ofertas que a farmacêutica fez ao governo brasileiro, sem resposta inicial, foi lembrada pelo executivo. O documento relata que ele “lamentou que, em meados de 2020, a Pfizer tenha procurado diversos países, ‘inclusive o Brasil’, e não conseguiu firmar acordos naquele momento”.
Em maio, o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, revelou a senadores da CPI da Covid que a farmacêutica teve três ofertas de vacinas contra a Covid-19 ignoradas pelo governo brasileiro em agosto do ano passado.
Outras ofertas também foram feitas em novembro e fevereiro, sem se chegar a um acordo. No fim de janeiro, o governo federal alegou haver cláusulas abusivas nas condições pedidas pela Pfizer.
Só em março foi aceita uma oferta da vacina. Carlos Murillo ainda afirmou que a farmacêutica enviou, em 12 de setembro de 2020, uma carta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), além de outras autoridades, com o objetivo de acelerar a negociação dos imunizantes.
A carta, assinada pelo presidente mundial da Pfizer, Albert Bourla, ficou dois meses sem resposta, segundo relatou o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten aos senadores.