PF tira delegado da investigação sobre suspeita de interferência em prisão de Ribeiro
Por envolver servidores, a apuração será tocada pela Coordenação de Assuntos Internos da Corregedoria-Geral da Polícia Federal
atualizado
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A Corregedoria-Geral (Coger) da Polícia Federal (PF) passará a investigar a suposta interferência na Operação Acesso Pago, que prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro em junho deste ano.
Até então, a apuração estava sendo conduzida pelo delegado Bruno Calandrini, no âmbito da própria Acesso Pago.
O delegado acusou a superintendência da PF de tratar Milton Ribeiro com privilégios e de atrasar deliberadamente sua transferência para Brasília por “ordens superiores”.
A Coger, contudo, decidiu tirar o delegado do caso e mandá-lo para a Coordenação de Assuntos Internos (Coain), uma vez que envolve servidores do órgão. O movimento tira poder de Calandrini, que também teria virado “parte” na investigação.
Calandrini, porém, segue à frente da Acesso Pago. A operação investiga tráfico de influência e corrupção na liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Na quarta-feira (28/9), a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou suspender a investigação sobre suposta interferência da cúpula da PF na operação. O pedido de habeas corpus havia sido apresentado pelo policial federal Raphael Soares Astini, responsável pela prisão de Ribeiro, em Santos (SP).
Astini alegou ser alvo de abuso de autoridade e de investigação paralela por Calandrini, como mostrou o Metrópoles.
O colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelou, em agosto, que Calandrini pediu ao Supremo Tribunal Federal a prisão de integrantes da cúpula da Polícia Federal. A solicitação também está nas mãos da ministra Cármen Lúcia, encarregada da ação sobre desvio de dinheiro no MEC.
Calandrini afirma que seus superiores estariam impondo obstáculos ao bom andamento da investigação. Em mensagem enviada após a prisão do ex-ministro da Educação, ele disse que não tinha “autonomia investigativa para conduzir o inquérito deste caso com independência e segurança institucional”.
O delegado afirmou ainda que houve “decisão superior” para que Ribeiro, na ocasião em que a operação foi deflagrada, não fosse transferido de São Paulo para Brasília.
Um grampo telefônico usado pelo Ministério Público Federal (MPF) para apontar indícios de envolvimento do presidente Jair Bolsonaro (PL) e encaminhar para o STF parte da investigação sobre o escândalo no MEC mostra o ex-ministro Milton Ribeiro contando a uma filha que “o presidente” havia o alertado sobre a possibilidade de uma operação de busca e apreensão.
“Hoje o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento, novamente, de que podem querer atingi-lo através (sic) de mim”, disse Ribeiro a uma filha, no último dia 9 de junho. “Ele acha que podem querer fazer uma busca e apreensão em casa. É muito triste”, declarou o ex-ministro.