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PF para Bolsonaro e picanha para Lula: narrativas acirram polarização

Ações da PF contra Bolsonaro e invocação da direita da isenção do imposto sobre a carne, jogando “picanha” contra Lula, acirram eleições

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Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
Foto colorida de viatura da Polícia Federal em frente a Abin - Metrópoles
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As movimentações da política nacional dão o tom da disputa municipal no ano eleitoral. De um lado, operações recentes da Polícia Federal (PF) contra Jair Bolsonaro (PL) e pessoas ligadas ao ex-presidente servem de munição para alimentar o antibolsonarismo. De outro, a carne é o centro do debate, com conservadores do Partido Liberal ressaltando o preço da picanha e a emenda de um deputado da legenda, no texto da reforma tributária, que incluiu as proteínas animais na lista de itens livres de impostos.

Para especialistas, a polarização tão comum no nível federal deve se repetir nos cenários das disputas locais, principalmente nos grandes centros urbanos.

Doutor em ciência política, Paulo Kramer explica que o contexto dos grandes centros “pode adquirir caráter plebiscitário” no âmbito da polarização. “O Brasil é um país muito diversificado. O ex-ministro de Desburocratização, Hélio Beltrão, dizia o seguinte: ‘O Brasil é um grande país pequeno’. Então, nos centros que são mais impactados pela mídia nacional, pelo que acontece no Brasil e no mundo, você terá, sim, uma eleição municipal que pode adquirir caráter plebiscitário contra ou a favor do governo, contra o favor do Bolsonaro”.

Um caso que deve se relacionar diretamente com a política federal é a recente operação da Polícia Federal que prendeu cinco pessoas e deu novos detalhes sobre a atuação do grupo que formava a chamada “Abin paralela”. A ação impacta o pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

A PF investiga uma organização criminosa que era voltada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas, utilizando-se de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo de Jair Bolsonaro.

Segurança pública e ligação com Bolsonaro

A investigação apontou que os integrantes do grupo atuavam invadindo aparelhos e computadores, além da infraestrutura de telefonia, com diversos núcleos distintos dentro da organização, “todos responsáveis pela execução das infrações penais”. Ramagem, ex-diretor-geral da Abin, é apontado como integrante do “núcleo da alta-gestão”. Ele teria autorizado os monitoramentos sem lastro técnico que os justificassem.

O deputado, no entanto, negou qualquer acusação, criticando a operação da PF. “Fica claro que desprezam os fins de uma investigação, apenas para levar à imprensa ilações e rasas conjecturas. […] No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro”, publicou na sexta-feira (12/7).

Mesmo em pré-campanha, o cenário eleitoral no Rio de Janeiro mostra como esse caso nacional e a pauta geral da segurança pública, uma das bandeiras de Ramagem, poderão ser temas de discussões.

Tarcísio Motta (PSol-RJ), que também se lança como pré-candidato, criticou o opositor. “Enche a boca para falar que vai combater o crime, mas manipulou a máquina pública para blindar a família Bolsonaro”, escreveu, nas redes.

Motta fez referência às ações clandestinas direcionadas contra os auditores da Receita Federal responsáveis por investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, divulgadas pela PF. Além de Ramagem, outros nomes de políticos que influenciam o cenário eleitoral entram na investigação, sendo a maior parte deles como possíveis vítimas do monitoramento ilegal.

São Paulo

Outro caso a ser analisado vem de São Paulo. O cientista político Paulo Kramer cita como exemplo o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). “Muito embora ele não seja um bolsonarista raiz, está sendo apoiado pelo Bolsonaro. Do outro lado, ele vai enfrentar o Boulos, apoiado pelo presidente Lula. Então, é claro que essas questões nacionais vão surgir com força”, ressalta.

Leandro Rodrigues, doutor em ciência política, lembra que a polarização não necessariamente é de bolsonaristas contra petistas, porque a esquerda é mais ampla do que o Partido dos Trabalhadores. “Eu acredito que sim, essa polarização vai existir nas eleições de 2024. Mas não diria que seria entre bolsonarismo e petismo. Talvez seja entre bolsonarismo e antibolsonarismo, talvez um petismo e antipetismo. […] E, para a gente perceber o impacto disso, vai depender de fato se os candidatos vão conseguir atrelar sua imagem ao Bolsonaro, ao Lula, ou ao anti-Bolsonaro, ao anti-Lula. E não basta eles atrelarem. Os eleitores têm que entender que existe essa relação, essa aproximação.”

Para Arthur Reis, especialista em marketing político, tanto a esquerda como a direita terão novos protagonistas nas eleições, mas ainda existe hoje um momento de indecisão de pré-candidatos municipais devido à grande polarização. “Isso será mais forte nas redes sociais e nos debates internos de cada município. No fim, as eleições municipais serão divisoras para ilustrar como está a polarização nas cidades, o que vai apontar ainda um novo rumo para as eleições de 2026.”

Fuga dos opostos

O caso nacional da “Abin paralela” mostrou políticos que foram monitorados de forma irregular, como o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP). Após a divulgação da investigação, ele ressaltou a ideia do caminho político distinto tanto do bolsonarismo como do petismo, que será adotado por alguns candidatos às eleições de 2024. O deputado criticou o “aparelhamento criado pelo governo Bolsonaro nas instituições”, mas cutucando ainda o PT.

“Eles, que agora se dizem vítimas da perseguição do PT, não pensaram duas vezes em fazer o mesmo quando estiveram no poder”, afirmou Kataguiri. O MBL, que colhe assinaturas para criar o Partido Missão, publicou nas redes que “o governo Dilma tentou montar um dossiê” contra o movimento, assim como “o governo Bolsonaro espionou o MBL”.

O tema da perseguição aos opositores é cada vez mais citado nos debates políticos, com trocas de acusações de ambos os lados. Nas últimas semanas, por exemplo, foi a vez de a direita reclamar de desinformação e ataque coordenado.

Os deputados federais Filipe Barros (PL-PR) e Bia Kicis (PL-DF) entraram com representação para incluir petistas e influencers no inquérito que investiga a atuação de milícias digitais no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet Branco, se manifestou contra, na última quarta-feira (10/7).

Picanha

Outra linha de atuação recente da direita foi trazer à tona o debate da “picanha”, após a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 68/2024, que regulamenta a reforma tributária. O relator da proposta foi o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que aceitou a inclusão das proteínas animais na lista de itens livres de impostos. Mas a emenda que traz esse texto é de autoria do deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS).

Com isso, a ala de parlamentares da oposição passou a fazer campanha para dizer que a isenção da carne foi obra deles e que o presidente Lula era contra.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou nas redes: “O pobre vai comer carne sem mais impostos graças a Jair Bolsonaro, não a Lula”. “O PT fez de tudo. Inclusive o trabalho que eles tiveram nas votações contra a PEC dos Precatórios, para não deixar o Jair Bolsonaro pagar o auxílio Brasil de R$ 600. Ou seja, estavam se lixando para o pobre e querendo ver o presidente Bolsonaro numa pior situação […]. Nós não nos norteamos por isso, a gente tem moral, tem ética. É por isso que ontem, pensando no brasileiro, a gente destacou uma parte da reforma tributária.”

Outros parlamentares de oposição ao governo também se manifestaram reforçando essa ideia. Kim Kataguiri escreveu que “Lula e Haddad queriam taxar a picanha”, mas perderam, enquanto Bia Kicis afirmou que o destaque apresentado do PL só foi acatado pelo relator do PT aos “45 minutos do segundo tempo, porque viu que o governo iria sofrer uma derrota estrondosa”.

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