PF: organização criminosa envolvendo núcleo de Bolsonaro tinha 5 eixos de atuação
Documento encaminhado ao STF para embasar busca e apreensão contra Mauro Cid e o pai dele, Mauro Cesar Lourena Cid, traz as suspeitas
atualizado
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A Polícia Federal informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) ter identificado ao menos cinco eixos de atuação do que chama de “organização criminosa de peculato e lavagem de dinheiro” envolvendo o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid; o pai dele, Mauro Cesar Lourena Cid; o ex-advogado de Bolsonaro Frederick Wassef; e Osmar Crivelatti.
Eles são investigados pela PF pelo uso da “estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior”.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou busca e apreensão contra os investigados. Moraes atendeu a pedido da PF, que dividiu a atuação da organização em cinco eixos:
- Ataques virtuais a opositores;
- Ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
- Tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do estado democrático de direito;
- Ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia e;
- Uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, o qual se subdivide em: uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais e; inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina; desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente Bolsonaro, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito.
A relação entre venda de presentes oficiais e o nome de Mauro Cid apareceu há alguns dias. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro teve acesso a e-mails em que o tenente-coronel Mauro Cid negocia um relógio Rolex, de US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil), recebido em viagem oficial.
A operação da PF, com autorização de Moraes, tem relação com presentes recebidos no exterior pelo Estado brasileiro e depois comercializados para lucro próprio.
Determinação de Bolsonaro
A Polícia Federal também destaca, a partir de dados analisados, indícios de que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República foi utilizado para “desviar, para o acervo privado do ex-presidente da República, presentes de alto valor, mediante determinação de Jair Bolsonaro”.
O trecho do documento está localizado na página 99, faz referência à investigação feita pela Polícia Federal (PF), chama de “esquema criminoso” para recuperar o relógio Rolex Day-Date, vendido pela empresa Precision Watches. Lá, consta que Wassef viajou para os EUA e readquiriu o relógio no dia 14 de março deste ano e, depois, no dia 29, trouxe para o território nacional em sua viagem ao Brasil, onde o entregou para o tenente-coronel Mauro Cid.
O documento ainda considera que as provas colhidas demonstram que a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro criou uma estrutura para desvio de bens de alto valor, presenteados por autoridades estrangeiras, para “serem posteriormente evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos”.
Ainda há a constatação de que há “total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro e desrespeito ao Estado estrangeiro”, já que os presentes representam uma cortesia e hospitalidade ao Brasil.
Policiais federais realizam as buscas na casa do general em Niterói, no Rio de Janeiro, e em Brasília. Há também uma busca em São Paulo.
Quem é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso em operação da PF
Investigação contra Mauro Cid
Segundo apontam as investigações, depois da venda dos objetos, o dinheiro em espécie entraria no patrimônio pessoal dos suspeitos por meio de terceiros, sem que bancos ou instituições financeiras formais fossem acionadas. Assim, origem, localização e propriedade dos valores eram escondidos.
“As ações ocorrem dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar ‘milícias digitais’ em tramitação perante o Supremo Tribunal Federal”, aponta a PF.