Lula será preso após missa por dona Marisa, diz Humberto Costa
Advogados do petista negociavam que rendição ocorresse somente na segunda-feira (9/4), mas PF não estaria disposta a esperar mais
atualizado
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Enviados especiais a São Bernardo do Campo (SP) e Curitiba – Mais de cinco horas após o fim de prazo determinado pelo juiz federal Sérgio Moro para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se apresentasse voluntariamente à Polícia Federal, o senador Humberto Costa (PT-PE) declarou que as negociações com a PF estavam concluídas. Segundo o líder da Minoria no Senado, Lula será preso neste sábado (7/4), logo após a missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). A declaração foi dada à revista Veja.
“Ele não vai se entregar, não. Vai ser preso”, afirmou Humberto Costa.
O ato religioso está marcado para as 9h30, e a participação de Lula teria sido costurada ao longo do dia inteiro com o comando da Polícia Federal. Dona Marisa faleceu em 2017, e o 7 de abril marca a data do aniversário da ex-companheira de Lula. No início da noite, após desistir de discursar à multidão que permanece em vigília nas cercanias do sindicato, o ex-presidente mandou um recado ao povo pelo também senador Lindbergh Farias (PT-RJ): queria a presença de todos na missa de dona Marisa.
Pouco depois de Lindbergh transmitir a mensagem do líder petista, a Policia Federal em São Paulo confirmava que o mandado de prisão contra Lula não seria cumprido mais na sexta-feira (6). No entanto, a corporação não anunciou outros detalhes.Desde quinta-feira (5), quando o juiz Sérgio Moro despachou a ordem de prisão, Lula permanece na sede do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, local onde iniciou suas trajetórias sindical e política. De acordo com a Guarda Municipal de São Paulo, cerca de 10 mil pessoas compareceram ao ato realizado na localidade, entre o fim da tarde e até pouco depois das 20h de sexta.
Dia de conchavo
Dentro do edifício, ao longo do dia, Lula conversou com religiosos e artistas, como a cantora Leci Brandão e o rapper Taíde. Na sala, a cúpula do PT anunciou a Lula a decisão dos sindicatos e movimentos sociais de manter a resistência à prisão decretada pelo juiz federal Sérgio Moro.
O político também passou o dia recebendo lideranças políticas e de organizações sociais, bem como advogados que conversavam com a PF. O berço do sindicalismo em São Paulo foi fornecido por Lula como endereço residencial em alguns processos judiciais. Visto que a polícia não pode entrar em domicílios após as 18h, ao evitar deixar o prédio, o petista estaria, consequentemente, livre da prisão nessa sexta (6/4), caso as negociações com os federais não evoluíssem. A ação também faz parte da estratégia da defesa do ex-presidente.
Para não inflamar a militância, a maior liderança do PT desistiu de discursar em carro de som. Segundo fontes do partido, com a abstenção do petista de falar em público, a defesa esperava ganhar pontos para que Lula comparecesse à Polícia Federal posteriormente. Os defensores teriam proposto à PF uma solicitação para o político participar de ato em honra de Marisa Letícia, mas sugeriam que a apresentação do ex-presidente ocorra apenas na segunda-feira (9). No entanto, da parte da corporação, a perspectiva é de que a espera termine neste sábado (7), logo após o ato religioso.
No acordo que vem sendo costurado entre os advogados de Lula e a Polícia Federal, também estaria sendo negociada a transferência do ex-presidente para Curitiba em voo fretado, em vez de a bordo do avião da corporação que já transportou outros réus da Operação Lava Jato. Assim, a ordem de execução da pena seria cumprida, sem, contudo, dobrar Lula e o PT à vontade do juiz Sérgio Moro, autor da determinação – e, de quebra, separando-o do rol de políticos investigados.
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo tem sido um dos aliados do ex-presidente a negociar os termos da prisão com a Polícia Federal. Desde as primeiras horas do dia, Cardozo tem mantido contato com o Grupo de Pronta Intervenção (GPI) da PF, unidade designada para fazer a detenção de Lula.