PF já pagou R$ 130 mil a ex-agente réu por contrabandear ouro à Itália
Rodolfo de Archangelo, de 61 anos, é acusado de ajudar criminosos a burlar fiscalização alfandegária. Ele se aposentou em julho de 2021
atualizado
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O governo federal paga R$ 18.651,79 por mês de aposentadoria a um ex-agente da Polícia Federal (PF) acusado de participar de organização criminosa que contrabandeava ouro de garimpos ilegais da Amazônia para a Itália.
Rodolfo de Archangelo, de 61 anos, se aposentou voluntariamente em julho do ano passado. A informação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).
No mesmo mês, a PF deflagrou a operação Ruta 79, que cumpriu mandados de prisão contra aliados do policial.
Entre agosto do ano passado e janeiro deste ano, Archangelo recebeu mais de R$ 130 mil de dinheiro público, mostram dados do Portal da Transparência. Não há valores mais atualizados. Procurados nessa segunda-feira (18/4), a PF e o Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP) não deram detalhes sobre a aposentadoria do ex-agente. A Polícia Federal se recusou a fornecer informações por se tratarem de “dados pessoais”.
Archangelo, o empresário Gilberto Russo Rodrigues e o pai dele, Gilberto Rodrigues, foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por evasão de divisa e associação criminosa. A denúncia foi aceita pela 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo em novembro de 2020.
Russo foi preso em flagrante em setembro de 2019 no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao tentar embarcar para a Itália com 17,8 kg de ouro em uma mala de mão.
O minério, não declarado à autoridade aduaneira, foi avaliado em R$ 3,518 milhões pelos investigadores.
O empresário contava com a ajuda do policial para burlar a fiscalização, uma vez que o ouro não era declarado. Usando da prerrogativa de agente da PF, Archangelo introduzia barras e lâminas do minério na área restrita do aeroporto. Em seguida, repassava a mala ao Russo.
O Metrópoles apurou junto à Procuradoria da República de São Paulo (PRSP) que Archangelo usou o mesmo modus operandi para burlar a fiscalização alfandegária em ao menos outras oito ocasiões, entre fevereiro e setembro de 2019.
Em menos de dois anos (de janeiro de 2018 a setembro de 2019), Russo e o pai voaram 30 vezes para a Itália.
Estima-se que, entre 2017 a 2019, a organização criminosa contrabandeou mais de 1 tonelada de ouro para o país europeu. Durante as investigações também foram apreendidas joias avaliadas cerca de US$ 1 milhão (R$ 4,66 milhões na cotação atual).
No último dia 11 de abril, a PRSP instaurou um inquérito civil público para aprofundar a apuração dos fatos contra o ex-servidor da PF.
Os investigados faziam uso de mulas, que transportam o ouro até a Itália com o uso de documentação falsa de empresas fictícias sediadas no Paraguai. Em seguida, a organização trazia joias adquiridas na Ásia e nos Estados Unidos. As mulas também eram usadas para introduzir os ornamentos de forma clandestina no Brasil.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Rodolfo de Archangelo.
Mesmo investigado, Archangelo também chegou a ser eleito em 2021 para trabalhar no Sindicato dos Policiais Federais de São Paulo (Sinpf-SP), como secretário-geral. Na prática, foi o terceiro homem mais forte da entidade, atrás apenas da presidente e do vice-presidente.
Ao Metrópoles, o sindicato esclareceu, contudo, que nunca remunerou o ex-secretário, uma vez que o serviço é voluntário.
“Ainda, apenas para trazer maiores esclarecimentos, importante salientar que quando a diretoria executiva do sindicato soube da apontada investigação, foi pedido ao Sr. Rodolfo que se desligasse da instituição sindical, o que resultou em sua renúncia em 19 de janeiro de 2022”, acrescentou o Dinfpf-SP.