PF faz buscas em endereços ligados à ex-mulher de Sérgio Cabral
Investigação aponta que Suzana Neves comprou imóvel em São João del-Rei por R$ 600 mil sem que, aparentemente, tivesse recursos lícitos
atualizado
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A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro expediu dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Suzana Neves, ex-mulher do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Em nota, a força-tarefa da Lava Jato, na capital fluminense, informou que os mandados são cumpridos pela Polícia Federal nesta segunda-feira (8/5), em Araras (RJ) e São João del-Rei (MG).
A partir de fatos apurados nas Operações Calicute e Eficiência, identificou-se que Suzana Neves comprou, em nome de sua empresa Araras Empreendimentos Consultoria e Serviços Ltda, um imóvel em São João del-Rei por R$ 600 mil sem que, aparentemente, tivesse recursos de origem lícita compatível.
Além disso, a Receita Federal detectou que a Araras Empreendimentos teve movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada e distribuiu lucros e dividendos incompatíveis com as receitas auferidas, nos exercícios de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015. O levantamento demonstra que a sede da empresa é a própria residência de Suzana, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, e que não há nenhum empregado registrado.
As investigações também apontam que Suzana Neves utilizou sua empresa para ocultar a origem ilícita de R$ 1.266.975,00. Entre 25 de outubro de 2011 e 13 de dezembro de 2013, foram identificadas 31 transferências bancárias de recursos oriundos do grupo de empresas da empreiteira FW Engenharia, por intermédio da empresa Survey Mar e Serviços Ltda. A companhia realizou pagamentos à Araras Empreendimentos a título de serviços de consultoria em valor quase duas vezes maior que a sua renda bruta declarada.
Quase 50% dos valores recebidos pela Survey da FW no período analisado pela investigação foram repassados logo em seguida para a empresa de Suzana Neves.
Toda a movimentação aponta para lavagem de dinheiro pago como propina à organização criminosa em contratos que o Governo do Estado do Rio de Janeiro firmou com a FW Engenharia. Em diligências de busca e apreensão autorizadas durante a Operação Calicute, foram apreendidas diversas anotações que indicam o pagamento de propina pela empreiteira FW Engenharia em benefício da organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral — que está preso desde novembro.
Um dos contratos firmados com a empresa, no valor de R$ 35 milhões, teve por objeto a elaboração de projeto executivo e a execução de obras complementares de urbanização no Complexo de Manguinhos, comunidade beneficiada pelo PAC Favelas. A contratação foi financiada com recursos da União provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento.
As oito denúncias já apresentadas pela força-tarefa da Lava Jato, no Rio, apontam “como Sérgio Cabral instituiu, ao assumir o Governo do Rio de Janeiro, em 2007, um esquema de cartelização de empresas e favorecimento em licitações, mediante pagamento de propina de cerca de 5% em todas as grandes obras públicas de construção civil contratadas junto ao ente público, quase sempre custeadas ou financiadas com recursos federais”.
As investigações demonstram que a organização desviou mais de US$ 100 milhões dos cofres públicos mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior.