PF apura se Abin passava informações sigilosas a filhos de Bolsonaro
As investigações fazem parte da operação que teve o atual deputado federal Alexandre Ramagem como alvo, nesta quinta-feira (25/1)
atualizado
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A Polícia Federal (PF) suspeita que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tenha fornecido informações aos filhos do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) para que eles se defendessem de ações na Justiça. Em operação realizada nesta quinta-feira (25/1), a corporação investiga se a Abin realizou monitoramentos ilegais.
Segundo decisão que embasou 21 buscas e apreensões nesta quinta-feira (25/1), incluindo o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), “os policiais federais destacados, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram ferramentas e serviços da Abin para serviços e contrainteligência ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como, por exemplo, para tentar fazer prova a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro”.
Em 2021, a PF instaurou inquérito para apurar suposto tráfico de influência cometido por Jair Renan, o filho 04 de Bolsonaro. A suspeita é que Ramagem teria atuado para atrapalhar essas investigações.
No fim de 2020, representantes da empresa Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, que atua nos setores de mineração e construção, conseguiram uma reunião com o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PL), cerca de um mês após presentearem Jair Renan e o empresário Allan Lucena com um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. Lucena é parceiro de negócios e personal trainer de Renan Bolsonaro.
Em depoimento à PF, na época, o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que o personal trainer seria responsável pela captação de patrocinadores para investirem no camarote que os dois abriram no estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Vazamento de relatório
A decisão, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, também determina que sejam buscados elementos sobre a suspeita de que a Abin foi usada para elaborar relatórios de defesa a favor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também filho do ex-presidente.
“A utilização da Abin para fins ilícitos é, novamente, apontada pela Polícia Federal e confirmada na investigação, quando demonstra a preparação de relatórios para defesa do senador Flávio Bolsonaro, sob responsabilidade de Marcelo Bormevet, que ocupava o posto de chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN), como bem destacado pela Procuradoria-Geral da República”, cita o ministro em sua decisão.
Em nota, o senador Flávio Bolsonaro repudiou a suspeita. “É mentira que a Abin tenha me favorecido de alguma forma, em qualquer situação, durante meus 42 anos de vida”, disse.
Investigação
A apuração da PF ainda visa constatar se governadores, políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam sido vigiados por uma organização criminosa infiltrada na agência estatal.
Entre as autoridades ilegalmente monitoradas por um software espião da Abin, estariam os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e o ex-governador do Ceará Camilo Santana, hoje ministro da Educação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos alvos porque as supostas investigações sem autorização judicial ocorreram quando ele era diretor-geral da Abin, entre julho de 2019 e março de 2022, durante o governo de Bolsonaro.
Operação da PF
Equipes da PF fizeram buscas no gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados e no apartamento funcional, na manhã desta quinta-feira (25/1). Além de Ramagem, policiais federais são alvo da Operação Vigilância Aproximada.
Eles são suspeitos de integrar uma organização criminosa que se infiltrou e usou o aparelho estatal da Abin para monitorar ilegalmente a geolocalização de dispositivos móveis de servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e juízes.
Ao todo, a PF cumpre 21 mandados de busca e apreensão. Do total, 18 são em Brasília (DF), um em Juiz de Fora (MG), um em São João del Rei (MG) e um no Rio de Janeiro (RJ).