Pesquisadores da UFRJ desenvolvem remédio para câncer colorretal
Estudo busca combinar drogas baseadas em compostos naturais com quimioterápicos já utilizados; resultados iniciais são promissores
atualizado
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Rio de Janeiro – O câncer colorretal é o segundo tumor com maior incidência no país e, apenas em 2019, matou 20.578 pessoas. Para ajudar a melhorar esse cenário, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveu uma iniciativa inédita que pode ter impactos importantes no tratamento da doença que atinge 19 a cada 100 mil pessoas por ano no Brasil, de acordo com Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A pesquisa de um novo remédio ainda está em fase inicial, mas já traz resultados promissores – inclusive, publicados na revista internacional especializada Cancers. A partir da combinação de uma série de compostos naturais, conseguiu-se inibir a proliferação celular dos tumores.
“O benefício é trazer o menor impacto no corpo do paciente, já que os quimioterápicos se mostram muito invasivos”, afirma Fernando Oliveira, doutorando em ciências morfológicas que acompanha a análise, ao Metrópoles.
“É comum que uma parcela dos pacientes desenvolva novamente o tumor algum tempo depois de realizar a quimio. A nossa preocupação agora consiste em combinar o que já é feito com a nossa droga, que tem menos efeitos colaterais, e ver qual será o resultado.”
O grupo, coordenado pelo professor José Garcia Abreu, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ), partiu de uma informação divulgada no Atlas do Genoma do Câncer. Segundo o material, 95% dos casos de tumores colorretais possuem alterações em uma via importante em grande parte dos processos fisiológicos, chamada de Wnt e estudada por especialistas do Programa de Ciências Morfológicas da universidade desde 2009.
“Realizamos um ensaio específico para avaliar a via Wnt com uma biblioteca de moléculas de origem natural. A lonchocarpina foi uma das moléculas mais promissoras neste caso”, explica Fernando Oliveira. Ela é encontrada em plantas do gênero Lonchocarpus ou Derris, achados principalmente no nordeste do país, e em algumas regiões do sudeste.
Processo da pesquisa
O caminho a ser percorrido para que o remédio seja aprovado é longo. Inicialmente, o estudo utilizou a validação em células, depois passou para o modelo ‘in vivo’, com camundongos e, mais recentemente, com rãs.
O Laboratório de Embriologia de Vertebrados (LEV), único do país com licença para cultivar e realizar experimentos nas colônias de rãs, utiliza a fertilização externa de uma espécie africana, do gênero Xenopus laevis.
Ela produz embriões grandes e as fêmeas colocam ovos a cada quatro meses, o que auxilia no processo das análises. O coordenador José Garcia Abreu cria cerca desses 120 animais desde 2005.
Como modelo de estudo, esses bichos possuem várias vantagens. Permitem que se induza hormonalmente embriões e se consiga realizar as fertilizações em laboratório.
Além disso, é possível manter os embriões se desenvolvendo em ambiente externo e acompanhar o processo embrionário. As rãs contam com a via Wnt muito estabelecida nesta espécie, o que ajuda observar com clareza o comportamento da molécula.
Futuro
O próximo passo do processo, o mais complexo, será analisar amostras humanas. No entanto, há muitas restrições para isso. Uma alternativa é iniciar o cultivo de organoides intestinais em laboratório, tanto com amostras de camundongos, quanto de pacientes.
No momento, há uma expectativa de validação de amostras de tumores humanos extraídos cirurgicamente. “Uma vez que temos os resultados da primeira análise, esses dados podem ser submetidos a um comitê para que entrem em pesquisas mais clínicas”, explica Fernando.
O objetivo da iniciativa como um todo é entender os mecanismos do câncer colorretal para desenvolver um remédio que, quando combinado com quimioterápicos, traga resultados positivos e menos agressivos e também previna reincidências. De acordo com dados da UFRJ, 50% dos pacientes com tumor metastático são resistentes ao tratamento padrão.