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Pesquisadores criam “Big Brother” para monitorar fauna da amazônia

Cientistas registraram as primeira imagens e sons da biodiversidade amazônica captados por uma rede de câmeras e microfones escondidos

atualizado

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DIDA SAMPAIO/AE
FLORESTA AMAZÔNICA
1 de 1 FLORESTA AMAZÔNICA - Foto: DIDA SAMPAIO/AE

A era do “big brother” chegou de vez à Amazônia. Cientistas registraram em abril as primeira imagens e sons da biodiversidade amazônica captados por uma rede de câmeras e microfones escondidos na selva da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 600 quilômetros de Manaus.

Chamado Providence, o projeto é uma tentativa de automatizar e acelerar o processo de monitoramento da fauna brasileira, por meio de equipamentos de áudio e vídeo capazes de detectar e identificar espécies por conta própria, em tempo real, sem a necessidade de intervenção humana.

“A ideia surgiu de uma problemática que enfrentamos na Amazônia há muito tempo”, diz o pesquisador Emiliano Ramalho, do Instituto Mamirauá, que coordena o projeto. “A floresta está sendo derrubada rapidamente, mas os métodos tradicionais de monitoramento não nos permitem obter respostas rápidas sobre o que está acontecendo com a biodiversidade.”

Normalmente, o monitoramento de fauna na floresta depende da realização de estudos de campo, em que os cientistas entram na mata para registrar espécies diretamente ou com utilização de “armadilhas fotográficas”, câmeras automáticas com sensores de movimento, que fazem fotos ou vídeos quando um animal passa na frente delas.

As câmeras do Providence, chamadas “módulos visuais”, não só registram a imagem do animal como identificam a espécie, por meio de um software especial. São alimentadas por energia solar, produzida por painéis fotovoltaicos instalados no topo das árvores. Não é necessário recuperar nem trocar cartões de memória – os dados são enviados em tempo real para os pesquisadores, via satélite, rádio ou Wifi. “A expectativa é de que o sistema seja 100% autônomo”, explica Ramalho.

Nessa primeira fase de testes, que vai até junho, o sistema está “treinado” para reconhecer cerca de 40 espécies, incluindo aves, mamíferos e répteis. Há também os “módulos acústicos”, que reconhecem as espécies por meio do som – por exemplo, o canto de uma arara ou o urro de um macaco.

Os cientistas passaram o mês de março instalando os equipamentos na mata – dez módulos de áudio e vídeo terrestres, além de um módulo aquático no Rio Amanã, para identificação acústica de botos.

O primeiro registro “oficial” do projeto foi de um macaco-prego com filhote, no fim de março. “A parte de transmissão dos dados ainda é um desafio, mas de uma forma geral o sistema está funcionando muito bem”, relata Ramalho.

Cooperação

O projeto é uma parceria do Instituto Mamirauá (vinculado ao governo federal) com a Csiro, agência de pesquisa do governo da Austrália (que inventou o Wifi), e o Laboratório de Bioacústica Aplicada (LAB) da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, com financiamento de US$ 1,2 milhão da Gordon e Betty Moore Foundation.

Se tudo der certo, Ramalho já sonha com o dia em que haverá câmeras e microfones como esses espalhados por toda a Amazônia, “espiando” a biodiversidade da floresta de forma sistemática e contínua. “Queremos saber como a biodiversidade está sendo alterada pelas mudanças climáticas, pelo desmatamento e pelas obras de infraestrutura”, diz. “E queremos saber isso rapidamente.”

O número de espécies identificáveis pelo sistema pode ser muito maior; basta “ensinar” o programa a reconhecê-las.

“É uma proposta sensacional”, diz o pesquisador Carlos Joly, especialista em biodiversidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Se funcionar em Mamirauá, diz Joly, a tecnologia poderá ser útil não só no resto da Amazônia como nos outros biomas brasileiros. “Pode ser uma ferramenta importantíssima para, por exemplo, avaliar a eficácia de áreas protegidas e das estratégias de conservação de espécies ameaçadas.”

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