Pesquisa inédita revela caçadores ilegais na web e suas preferências
Estudo monitorou grupos de caça ilegal no Facebook e identificou 4.658 animais mortos em todos os estados. Ranking mostra os mais comuns
atualizado
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Pesquisadores monitoraram durante dois anos grupos de caçadores ilegais no Facebook e constataram que a prática da caça ilegal está amplamente disseminada em todos os estados, identificando ainda os principais alvos dos criminosos.
O biólogo brasileiro Hani Rocha El Bizri, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e do Center for International Forestry Research and World Agroforestry (CIFOR-ICRAF), juntamente com uma ampla equipe de pesquisadores, coletou dados de cinco diferentes grupos on-line entre os anos de 2018 e 2020. Essas comunidades tinham vídeos, fotos e descrições de caça esportiva ilegal.
Quatro anos após a coleta de dados do estudo, ainda é possível achar com facilidade páginas na internet com o registro de caçadas ilegais. A página Maranhão Selvagem no Youtube, por exemplo, publica imagens explícitas de caça ilegal semanalmente.
Veja o vídeo:
“A caça esportiva no Brasil envolve o consumo da carne, mas, nas redes sociais, também é tratada como troféu, já que os caçadores se elogiam e comparam suas caçadas. A maioria das publicações traz apenas a foto do animal, sem muito texto. Em algumas, há a imagem da carne com perguntas sobre a espécie”, explica Hani Rocha El Bizri ao Metrópoles.
O pesquisador identificou 1.414 caçadores que abateram um total de 4.658 animais em todos os 27 estados e seis biomas naturais do Brasil. A localização dos perfis dos caçadores nas redes sociais foi usada para mapear esse tipo de crime. Um artigo com os resultados da pesquisa foi publicado nessa segunda-feira (9/9) na publicação científica Conservation Biology.
Caças preferidas
Atualmente no Brasil é autorizada a caça do javali europeu, considerado espécie invasora, em situações específicas. Inclusive a venda de armas de fogo é permitida para caçadores, partindo do pressuposto de que vão usá-las apenas contra a espécie autorizada. Há ainda exceção para povos indígenas e comunidades tradicionais em estado de necessidade.
No entanto, a pesquisa de Bizri mostra um catálogo bem mais amplo de espécies. O animal mais requisitado é a paca, seguido pelo tatu e tipos de pombas. Entram ainda entre os mais abatidos o caititu, capivara, cotia (foto em destaque) e queixada.
“A paca foi a espécie mais caçada. Tem vários fatores para isso: a preferência pelo sabor da carne e por ser um animal relativamente fácil de abater, junto com o fato de ser um animal grande. É um balanço entre a facilidade e a quantidade de carne”, avalia Bizri.
Já entre os répteis mais caçados estão o teiú, espécies de jacaré e de jabuti. Chamou a atenção dos pesquisadores a grande quantidade de tartarugas e jabutis abatidos, quase todos ameaçados de extinção
“O fato de que tartarugas e jabutis estão entre os répteis mais visados contrariou as expectativas, pois essas espécies podem ser consideradas menos atraentes ou carismáticas aos olhos dos caçadores. Além disso, os métodos de caça empregados podem não envolver perseguição ativa, o que poderia desmotivar os caçadores para compartilhar fotos nas redes sociais”, diz trecho do artigo publicado nesta semana.
Os pesquisadores ainda fizeram uma série de cálculos para estimar o impacto da caça ilegal em cada bioma brasileiro. O estudo chega a conclusão que a caça esportiva ilegal aumenta a pressão sobre a fauna do Brasil, já abalada pelo desmatamento e pelo comércio de carne de animais silvestres.