Perspectivas de trabalho e saúde mental preocupam jovens, diz Unicef
No período pós-pandemia, jovens do ensino médio têm se preocupado cada vez mais com a perda de aprendizagem e acesso ao mercado de trabalho
atualizado
Compartilhar notícia
Os adolescentes brasileiros estão cada vez mais preocupados com qualidade da educação, transição para o mundo do trabalho, acesso à internet e saúde mental no período pós-pandemia. É o que aponta relatório divulgado, nessa segunda-feira (10/4), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Rede de Conhecimento Social.
O levantamento ouviu mais de 16 mil adolescentes e jovens que estão no ensino médio para entender os impactos, os hábitos adquiridos e as prioridades para a saúde, educação, trabalho e renda.
“Adolescentes e jovens afetados pela perda de renda, empobrecimento e exclusão social estão mais pressionados a abandonar a escola em busca de trabalho, mesmo que informal e inadequado. Em muitos casos, somente a possibilidade de conciliar escola e trabalho lhes garante uma ponte para atravessar a situação de pobreza e assegurar seu desenvolvimento integral”, afirma Mário Volpi, chefe de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do Unicef no Brasil.
Para o fundo, é necessário que o Brasil invista em políticas públicas a fim de ampliar o potencial de transformação do país e impedir o aumento da evasão escolar. Veja as recomendações do Unicef:
- Priorizar investimentos em políticas sociais;
- Ampliar a oferta de serviços e benefícios aos(às) adolescentes mais vulneráveis;
- Fortalecer o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente;
- Implementar com urgência políticas de busca ativa escolar e retomada da aprendizagem;
- Implementar formas de identificar precocemente as famílias vulneráveis a violências;
- Promover e fortalecer oportunidades no ambiente escolar e na transição de adolescentes para o mercado de trabalho;
- Ouvir adolescentes e jovens que querem se engajar, ter participação na política e na sociedade.
Qualidade de ensino
Segundo o relatório do Unicef “Jovens e Ensino Médio”, sete a cada 10 estudantes do ensino médio sentem que ficaram para trás em seu aprendizado por causa da pandemia; e quatro a cada 10 adolescentes pensaram em parar de estudar em 2022.
Além disso, a pesquisa destaca que um a cada 10 continuavam pensando em deixar a escola; e quatro a cada 10 estão pessimistas em relação à conexão da educação com o mundo do trabalho.
“Há, no Brasil, uma naturalização do fracasso escolar, fazendo com que por vezes ou parte da sociedade aceite que um perfil específico de estudante – em sua maioria meninas e meninos negros e indígenas, e estudantes com deficiência, vindos de famílias de renda mais baixa – passe pela escola sem aprender, sendo reprovado diversas vezes até desistir”, ressalta Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil.
Saúde mental e autocuidado
Para a pesquisa “Jovens e Ensino Médio”, a alimentação e a condição física dos estudantes brasileiros foram afetados pela pandemia. O levantamento mostra que estado emocional e a qualidade do sono são vistos como regulares ou péssimos por quase seis a cada 10 adolescentes.
“A saúde mental e a saúde física estão profundamente interligadas. Não podemos continuar a ver a saúde mental como algo secundário e, sim, como um investimento urgente e necessário para crianças e adolescentes em todos os setores, não apenas na saúde, para apoiar uma abordagem intersetorial, incluindo toda a sociedade para prevenção, promoção e cuidados”, explica Mário Volpi.