Peritos levam peças de gerador do Badim para apurar causa do fogo
Tragédia no Rio de Janeiro deixou 11 mortos. Peritos e Polícia Civil ficaram duas horas no local recolhendo material para investigação
atualizado
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Dois dias após o incêndio no Hospital Badim, na zona norte do Rio de Janeiro, as investigações sobre as causas da tragédia que deixou 11 mortos ainda são inconclusivas. Peritos e a Polícia Civil deixaram o hospital por volta das 10h30 deste sábado (14/09/2019), levando bolsas com material e peças recolhidos no local, após cerca de duas horas de trabalho.
A investigação se concentrou no subsolo do prédio, onde está o gerador apontado como foco inicial do incêndio a partir da análise de câmeras de segurança.
“Foi terminada a perícia, mas vamos preservar o gerador porque temos que retirar uma peça para fazer o teste de bancada e somente (será possível) com a ajuda da empresa que faz a manutenção, que tem as ferramentas adequadas”, disse o delegado titular da 18ª Delegacia de Polícia, Roberto Ramos, que conduz as investigações.
Segundo o delegado, será feito um estudo mais aprofundado para saber como foi feita a manutenção do gerador e o que provocou o incêndio.
“A gente pode falar preliminarmente que o problema foi no gerador”, reforçou.
Uma série de questões sobre o episódio continuam sem resposta. Entre outras coisas, os investigadores terão de descobrir como a fumaça se espalhou pelos andares do prédio, por que motivo o exaustor não jogou essa fumaça para fora, se havia saídas de emergência, rotas de fuga e se o plano de evacuação emergencial foi devidamente executado.
Outra preocupação da Polícia Civil é evitar eventuais vazamentos de material tóxico ainda presente no prédio do hospital.
“Estamos colhendo informações com todos os técnicos e médicos, sabendo quais aparelhos ainda estão lá pra não ter possibilidade de um vazamento de material tóxico”, explicou.
Ainda não há data certa para o retorno dos peritos ao local com os técnicos. Nesta sexta-feira (13), o calor e a fumaça excessivos no local estavam dificultando os trabalhos dos agentes, informou a Polícia Civil.
O subsolo também estava alagado pela ação dos bombeiros para apagar o fogo e sem iluminação adequada, o que levou os trabalhos a serem interrompidos e retomados na manhã deste sábado.
O prédio do Hospital Badim continua interditado pela Defesa Civil por motivos de segurança, assim como outros imóveis no entorno. O cenário ainda remete ao caos da noite de quinta, com colchões, lençóis e lixo espalhados na frente do hospital.
Fotos obtidas pela TV Globo mostram a destruição no interior do prédio, tomado por fuligem, sujeira e leitos desarrumados. No antigo Centro de Tratamento Intensivo (CTI), restaram apenas ferros retorcidos. A sala do tomógrafo foi completamente destruída.
Pelo menos seis das 11 vítimas fatais do incêndio estão sendo sepultadas neste sábado, no Rio:
Luzia dos Santos Melo, de 88 anos;
Virgilio Claudino da Silva, de 66;
Irene Freitas, de 83;
Darcy da Rocha, de 88;
Marlene Menezes Fraga, de 85;
Maria Alice Teixeira da Costa, de 75.
A primeira vítima enterrada na manhã deste sábado foi Luzi, maranhense que morava em Cascadura e deixou cinco filhos vivos. O funeral aconteceu às 10 horas no Cemitério do Caju.
Em depoimento ao Estado, nesta sexta, Emanuel Ricardo dos Santos Melo, que estava com a mãe no hospital, disse que os bombeiros não permitiram que ele acompanhasse a mãe a partir de um dado momento e responsabilizou o hospital.
“O Badim não falava coisa com coisa, a Defesa Civil muito menos. Com certeza a morte dela poderia ter sido evitada. Foi um assassinato, houve negligência do hospital”, afirmou.
De um total de 103 pessoas que estavam internadas no Hospital Badim na noite da tragédia, 77 foram transferidas para outros 12 unidades de saúde da cidade.
Acompanhante da idosa Maria Alice Teixeira da Costa, que morreu no incêndio, Gigiani dos Santos continua internada no Quinta D’Or. Ela tentou escapar por uma corda improvisada na janela, mas acabou caindo e quebrou os dois tornozelos.
“Eu fiquei olhando e vi o bombeiro chegando para socorrer, mas aí eu já não sei mais onde ela estava, a dona Maria Alice. Me tiraram de lá e não sei onde ela ficou. Sei que ela estava no quarto com outras pessoas. Eu desci para pedir ajuda, jamais ia deixá-la sozinha”, disse, ao choro, Gigiani em depoimento à TV Globo.