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Perícia diverge de PMs sobre mortes de trabalhadores rurais em Goiás

Laudo diz que vítimas foram surpreendidas “com chances reduzidas de defesa”. Eles usavam armas para caçar porcos que só dão um tiro por vez

atualizado

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SSPGO
Tres mortos PM Cristalina Entorno Goias
1 de 1 Tres mortos PM Cristalina Entorno Goias - Foto: SSPGO

Goiânia – A perícia feita no local das mortes de três trabalhadores rurais pela Polícia Militar de Goiás (PMGO), no ano passado, diverge da versão dada pelos militares de que as vítimas teriam reagido e atirado contra a viatura. O inquérito que apura os homicídios, ocorridos no Entorno do Distrito Federal, ainda não foi concluído.

Allef Nunes Souto, de 22 anos, Nelson da Silva Cardoso, de 38, e Francisco da Silva Chaves, de 41, foram mortos com vários tiros por uma equipe de três militares da Patrulha Rural. O fato ocorreu em uma estrada isolada de terra na zona rural de Cristalina, a 130 quilômetros de Brasília (DF), na noite de 25/11 do ano passado.

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Francisco, de 41 anos, junto de sua família. Deixou esposa e filhos
Aleff Nunes, 22 anos, vítima mais nova. Deixou namorada grávida de seis meses
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Nelson, de 38 anos, ao lado da esposa. Deixou um filho

Arquivo pessoal
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Francisco, de 41 anos, junto de sua família. Deixou esposa e filhos

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Aleff Nunes, 22 anos, vítima mais nova. Deixou namorada grávida de seis meses

O laudo da reconstituição do crime foi anexado à investigação na semana passada. Ele sugere que “as vítimas foram surpreendidas pelos tiros em momento em que estavam com chances reduzidas de defesa”. Conforme o documento, as vítimas “portavam armas de tiro unitário simples e não estavam em posição favorável para a realização de tiros”.

43 tiros

Os militares disseram que os três trabalhadores estavam furtando gado na região e que eles teriam atirado contra a viatura. Um bando formado por outros ladrões também teria atirado, mas fugido pela mata e nunca mais encontrado, afirmaram os militares. Essa versão foi questionada por familiares, amigos e patrões das vítimas.

Para os peritos que fizeram a reconstituição do crime, não há indícios de que disparos tenham sido realizados por outros atiradores, como alegado pelos policiais. Os policiais atiraram 43 vezes contra os trabalhadores. Mas faltavam 31 estojos de munição no local do crime, segundo o laudo.

Conforme versão de familiares dos trabalhadores rurais, eles caçavam javali dentro da própria fazenda onde trabalhavam, focada no plantio de soja. No local do crime havia uma javaporca fêmea adulta e filhotes em um saco. Moradores de Cristalina fizeram pelo menos três protestos pedindo justiça pelas mortes, em 2020.

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Bonecos foram usados para simular vítimas, em Cristalina (GO)
Vítimas foram surpreendidas por policiais, segundo perícia
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Momento das mortes foi simulado durante reprodução simulada

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Bonecos foram usados para simular vítimas, em Cristalina (GO)

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Vítimas foram surpreendidas por policiais, segundo perícia

SSPGO

Segundo o laudo da perícia, a vítima mais jovem, Aleff, foi atingida por um disparo pelas costas. Para os peritos “é admissível que ele estivesse correndo dos atiradores quando foi atingido”. E que é “improvável que conseguisse correr, atirando para trás, em direção aos policiais”. Esse último ponto seria impossível, segundo o laudo, pois a arma de caça da vítima era de tiro unitário, ou seja, precisa ser recarregada a cada disparo.

Até o prefeito da cidade, Daniel do Sindicato (DEM), do mesmo partido do governador Ronaldo Caiado, pediu investigação urgente na época do crime. Ele afirmou que as vítimas eram pessoas idôneas e muito queridas na comunidade.

Mortes no escuro

De acordo com o laudo, o crime ocorreu em um local escuro, sem iluminação pública e sem testemunha ocular. Além disso, aponta o documento, a viatura dos militares estava com faróis, giroflex e sirene desligados. Os policiais também não teriam dado nenhum aviso de que eram da PMGO. Os três trabalhadores estavam em duas motocicletas.

No dia do incidente, as armas das vítimas, uma garrucha e duas espingardas, foram retiradas do local por um dos policiais que participou da ação. Os três trabalhadores foram levados pela polícia até a unidade de saúde de Cristalina. Eles já chegaram todos sem vida.

Durante a reconstituição do crime, o policial que retirou as armas mostrou, em manequins que representavam os mortos, as espingardas presas nos ombros das vítimas, em posição de transporte. Para a perícia, isso mostra que as armas estavam em posição não favorável para dar tiros.

Sem provas de confronto

A viatura dos policiais, modelo Amarok, tinha uma marca de tiro no para-brisa. Isso foi apresentado pelos militares como indício de que foram atacados a tiros.

No entanto, segundo a perícia, “não é possível afirmar categoricamente que houve confronto”. Pois não está comprovado quem deu o disparo que acertou o veículo policial.

Uma testemunha ouvida pela perícia diz que na noite das mortes ouviu alguns disparos isolados minutos depois da rajada de 43 tiros, que pareciam ser barulho de espingarda.

Outro lado

Uma semana após as mortes, o governador de Goiás Ronaldo Caiado chegou a ser questionado sobre o caso. Ele disse que ia esperar a conclusão do caso para falar.

O Metrópoles entrou em contato com a PMGO, a Polícia Civil de Goiás e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSPGO). Mas, até a publicação deste texto, não obteve retorno.

A reportagem questionou: qual a previsão da conclusão do inquérito; se os três policiais militares envolvidos estão afastados; e se as famílias das vítimas serão reparadas pelo estado.

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