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Perícia da PF em sistemas da Odebrecht achou 87 mil arquivos “sumidos”

Peritos da corporação conseguiram acesso a banco de dados com mais de 89,6 milhões de arquivos da empreiteira

atualizado

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1 de 1 odebrecht - Foto: DIVULGAÇÃO/ODEBRECHT

A perícia realizada pela Polícia Federal em dois sistemas utilizados pela construtora Odebrecht pode ter aberto a porta para ampliar ainda mais a produção de provas no âmbito da Operação Lava Jato. O laudo produzido pelos peritos e divulgado na última sexta-feira (23/2) conseguiu extrair a maior quantidade de dados desde o início da operação e identificou o “sumiço” de um acervo com 87.866 arquivos listados pela empreiteira e que não haviam sido entregues pela construtora ao Ministério Público Federal (MPF).

Os dados, os quais somam 13 gigabytes, estavam em uma mídia que constava nos registros da empresa e não haviam sido repassados às autoridades. À PF, a Odebrecht afirmou que a ausência dos arquivos foi um erro, e os transmitiu à corporação. A falta também não tinha sido notada pelo MPF, o qual agora tem mais um grande acervo de evidências sobre as quais deve se debruçar.

O trabalho dos peritos teve início após determinação do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, que atendeu a pedidos da defesa do ex-presidente Lula.

Os advogados requeriam, principalmente, uma análise sobre a autenticidade do material apresentado pelo MPF no processo em que o petista é acusado de participar de corrupção em oito contratos entre a Odebrecht e a Petrobras. O Ministério Público estava em posse dos arquivos desde 2016, mas ainda não os havia submetido à perícia.

Os peritos atestaram a veracidade das informações e encontraram transferências que fazem alusão à compra do terreno para a instalação do Instituto Lula. Além disso, o trabalho permitiu acesso a todo o banco de dados dos sistemas Drousys e MyWebDay, utilizados, respectivamente, para comunicação interna e gerência financeira da empreiteira.

Exclusão de informações
Ao todo, o conjunto de informações representa 54 terabytes de dados e mais de 89,6 milhões de arquivos, entre planilhas, e-mails, fotos, vídeos, relatórios financeiros, etc. A análise identificou, ainda, indícios de exclusão de dois arquivos em 22 de junho de 2015, três dias após a deflagração da operação Erga Omnes, da Polícia Federal, que culminou com a prisão do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Bahia Odebrecht.

Segundo o laudo da PF, os dois arquivos excluídos eram um PDF e uma imagem. O comando utilizado não permitiu a recuperação das informações, mas os peritos acreditam que se tratava de uma senha de acesso ao sistema. “Considerando que há no histórico de comandos referências à montagem de containers truecrypt utilizando-se outros arquivos do tipo ‘PDF’ e ‘JPG’, e considerando a natureza do comando ‘shred’, é possível que os referidos arquivos sobrescritos servissem como parte das credenciais de acesso aos dados do container truecrypt contido na imagem forense […]”.

As senhas são, inclusive, um fator que dificulta o trabalho dos peritos. A Odebrecht se esquiva de repassar os códigos e, sem eles, os policiais não conseguem acesso à interface do sistema. O agora disponível acesso ao banco de dados do Drousys e do MyWebDay é uma solução mais trabalhosa, mas deve permitir a obtenção das informações.

Os dados ainda estão em forma bruta, e sua análise só será feita por meio de pedidos de defesa e acusação ou por determinação dos magistrados responsáveis pelos processos.

“Caixa de Pandora”
Segundo o presidente da Associação Nacional de Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, o total de dados é cerca de 50 vezes maior do que todos já analisados no âmbito da Operação Lava Jato. Para o dirigente, o laudo abre uma “caixa de Pandora” nas investigações da Lava Jato. “Esta deve ser só a primeira de muitas análises que ainda virão. É como um laudo-mãe”, afirma.

Camargo critica ainda a demora no repasse dos dados, por parte do Ministério Público Federal (MPF), à perícia da Polícia Federal. “O MPF já tinha essas informações há um ano e sempre dificultou o repasse delas para os peritos. Esses novos dados poderiam estar com eles há muito tempo”, reclama.

Por fim, o presidente da APCF afirma que o tratamento de informações desse tipo por técnicos arrisca corromper as provas e prejudicar as investigações. “Às vezes, eles não tomam todos os cuidados necessários para garantir a integridade das provas e acabam por danificá-las. Neste laudo, os peritos identificaram manipulação das informações, mas nada que comprometesse o resultado. No entanto, nem sempre este é o caso”.

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