Perfis falsos de Sari Corte denunciam racismo e pedem justiça por Miguel
Outras páginas foram criadas por usuários do Instagram para angariar seguidores com a repercussão do caso
atualizado
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Desde o dia 2 de junho, quando Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, despencou do nono andar de um prédio de luxo na região central do Recife, após ter sido deixado sozinho no elevador de serviço por Sari Corte Real (foto em destaque), patroa de Mirtes Renata Santana de Souza, mãe da criança, as redes sociais foram inundadas por postagens pedindo #JustiçaPorMiguel.
Enquanto a Polícia Civil de Pernambuco afirma que só se pronuncia após o final das investigações e a família do menino e grande parte da sociedade continua à procura de respostas, um fenômeno tem ocorrido na internet: a criação de perfis, em especial no Instagram, em nome de Sari.
Quando o nome da esposa do prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker, foi divulgado pela própria Mirtes em entrevista à TV Globo, surgiram mais de 50 contas que usam o nome da empregadora da mãe de Miguel, indiciada por homicídio culposo.
Entre as contas, algumas das quais se colocam como oficiais e ostentam fotos de Sari e do marido, há muitas que se colocam como espaços para denúncia de casos de racismo, como o da morte de Miguel.
“Essa conta vai tratar sobre assuntos envolvendo racismo. Cada caso um nome diferente”, explica o criador de uma das contas, um adolescente negro de 15 anos morador de São Luís, no Maranhão. “Graças a Deus nunca passei por episódios de racismo, mas acho que posso conscientizar as pessoas a combater”, explica ele.
Outro perfil já contabiliza 1.520 seguidores e 17 publicações – todas divulgando os atos de protesto contra a morte do menino, que ocorreram na última sexta no Recife, e também charges, fotos de Miguel e da própria Sari.
“Não será um perfil de fofoca com o intuito de ganhar seguidores. Postarei apenas alguns casos de lutas por justiça”, afirma o criador da conta na descrição.
“O caso Miguel não será esquecido. Até que a justiça seja feita”, diz a pessoa por trás do perfil, uma mulher branca do Recife. Ela continua: “As redes sociais cobrem a lacuna que a mídia tradicional deixa”.
Robôs
Por outro lado, há contas simulando o perfil oficial de Sari Corte Real. Sem qualquer apelo por justiça ou reflexões sobre o racismo. “Posso falar disso a partir da chave de pensar em pessoas que tentam se capitalizar, mesmo na tragédia, na tentativa de angariar seguidores, nesse caso, da maneira mais esdrúxula e mórbida possível e surfar, de certa maneira, nessa “celebridade” que Sari se tornou.
Na imprensa, ela se tornou um rosto e um nome conhecidos e, a partir disso, as pessoas buscam se capitalizar em torno desse rosto publicizado”, avalia a jornalista e professora do curso de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fabiana Moraes. “Agora, que capital é esse, se não o da visibilidade, eu não saberia te dizer.”
Muitas das contas têm todas as características de serem robôs. Usam a mesma foto, têm poucas ou nenhuma postagem e número reduzido de seguidores.
Uma delas ostenta a foto de Sari com o marido e, na descrição, “mãe, maratonista. Eu só quero paz”. Outras apelam para a religiosidade, com frases como “a salvação chega para os justos”. “fé” e “Deus na frente”
Na opinião de Luciano Meira, também professor da UFPE, “é um fenômeno mais da subjetividade que das redes sociais virtuais por si, mesmo que estas últimas sejam as plataformas usadas para dar alcance à perversão dessas pessoas. Ou de quem comanda os perfis, visto que podem todos ou a maioria serem bots”.