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Pequenos empresários contam como sobreviveram durante a pandemia

Empreendedores precisaram se reinventar para manter os negócios diante da crise causada pela pandemia de Covid-19

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Leonardo Monteiro e Hugo Cândido, fundadores da SysCoin
1 de 1 Leonardo Monteiro e Hugo Cândido, fundadores da SysCoin - Foto: Arquivo Pessoal

Com a pandemia de Covid-19, empresários de todos os portes precisaram se reinventar para não falir. Os menores, porém, tiveram a vida mais afetada. O que não significa, necessariamente, um impacto negativo nesses negócios. Exemplos mostram que muitos conseguiram superar as consequências econômicas de quase dois anos com os negócios travados.

Segundo a Boa Vista, os pedidos de falência subiram 12,7% em 2020. Foi a primeira vez que o país registrou aumento nessa estatística desde o fim da recessão de 2015-2016. De acordo com o Sebrae, a pandemia mudou o funcionamento de 5,3 milhões de pequenas empresas no Brasil, o que equivale a 31% do total. Outras 10,1 milhões, ou 58,9%, interromperam as atividades temporariamente no ano passado.

Mas a dificuldade imposta pela crise também criou oportunidades para empreendedores, como Mariana Borges. Apaixonada pelo crochê, ela recebia do Reino Unido uma caixa com produtos para desenvolver suas próprias peças. Mas o preço da libra esterlina disparou e já não valia mais a pena importar os insumos. Por isso, Mariana procurou um kit parecido aqui no Brasil.

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Leonardo Monteiro e Hugo Cândido, fundadores da SysCoin
Milene Oliveira, proprietária da Piri Confeitaria
Sérgio Quintiliano, proprietário do C'est si Bon
Novo local de atendimento do C'est si Bon
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Mariana Borges, proprietária da Crochet in Box

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Milene Oliveira, proprietária da Piri Confeitaria

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Sérgio Quintiliano, proprietário do C'est si Bon

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A paulistana não achou. E daí surgiu a ideia de ela mesma montar um conjunto e vender para outros apaixonados pelo crochê. Nasceu a Crochet in Box. Dessa forma, os antigos gastos com a arte tornaram-se uma forma de Mariana ter renda a partir de um hobby.

“Foi um sucesso absoluto. Muitas pessoas entraram e fizeram assinatura”, conta ela. Entretanto, a partir da terceira edição, as coisas mudaram. “Começamos a sentir o peso da economia e o número de vendas caiu. Além de não ser mais uma novidade, o impacto da economia foi grande”, relata.

Mariana, então, adaptou o negócio à situação que estava vivenciando. “Lançamos cursos e workshops virtuais e teve uma boa resposta do público, já que tem um retorno imediato. A única diferença é que o tempo investido para fazer isso acontecer é mais alto”, explica.

Impacto econômico

O contabilista brasiliense Hélio Lobo, da In9ve Contabilidade & Consultoria, conta que pequenos empresários sofreram diretamente com o impacto da pandemia e passaram por algumas dificuldades que empresas de grande porte normalmente não têm.

Uma delas é a dificuldade em obter crédito junto às instituições financeiras. As grandes empresas, devido à questão patrimonial, conseguem obter crédito com mais facilidade.

Além disso, a ausência de dinheiro suficiente em caixa para manter as atividades prejudicou o andamento do negócio. “Essas atividades seriam as obrigações com fornecedores, a folha de pagamento, obrigações com o governo, taxas e impostos. No Brasil, uma empresa tem, em média, caixa para sobreviver por 27 dias, o que não chega nem a um mês”, explica Hélio.

O contabilista continua: “As empresas brasileiras trabalham atualmente com giro. Por isso, elas não têm dinheiro em caixa para suprir necessidades de longo prazo, que foi exatamente o que a pandemia gerou: uma necessidade de longo prazo”.

Hélio Lobo afirma que as micro e pequenas empresas exercem “um papel fundamental na economia do país”. Para ele, é preciso que os empresários conheçam bem seus negócios para auxiliar nas tomadas de decisão, como cortar as despesas superficiais e que podem ser adiadas.

“É de suma importância enxugar as despesas da empresa ao máximo para ter um fôlego quando necessário. Além disso, é importante contar com uma boa assessoria contábil jurídica”, explica.

O contabilista relata que também é necessário se adaptar neste momento. “Os empresários tiveram de se reinventar e, dentro dessa reinvenção, o processo de inovação foi um fator determinante para enfrentar esse período”, conta.

Crescimento durante a pandemia

Leonardo Miranda, fundador da SysCoin Commerce, conta que sua empresa de marketing e e-commerce teve um crescimento exponencial na quarentena. De acordo com o brasiliense, o negócio surgiu para auxiliar lojas de roupa do Instagram, mas agora já atua desde a criação do negócio até o suporte do empreendedor.

Leonardo conta que “o grande salto foi no início da pandemia”. Ele ainda afirma que o sucesso da SysCoin está ligado às necessidades das empresas durante esse período. “Com a quarentena e distanciamento social, as lojas virtuais passaram a ser uma necessidade para as marcas”, relatou ele.

Agora, o objetivo é expandir: “Queremos acessar outras capitais. Primeiro, pretendemos ir para Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo. Em seguida, expandir para o resto do Brasil. Apesar de a pandemia ter criado uma cultura digital, ainda é muito importante a presença de pólos locais para auxiliar nossos clientes”.

A dica de Leonardo é encontrar um serviço que seja necessário para as pessoas neste momento. Ele também afirma que é importante “acreditar antes de o processo acontecer”. “Tentar ações diferentes das abordagens que você normalmente tem também ajudam, pois pode ser que dê errado na primeira tentativa, mas, com ajustes, as coisas vão dando certo”, relata.

Milene Oliveira, proprietária da Piri Confeitaria, também conta que novas táticas e abordagens foram essenciais para ter sucesso. “Eu tive de reformular toda a minha confeitaria e me adapatar a essa nova realidade”, explica.

Ela afirma que a pandemia permitiu que ela conseguisse se aprofundar em coisas que queria trazer para o negócio, mas não tinha tempo. A confeiteira, então, decidiu investir em um novo formato: os bento cakes. Diferentemente de outros lugares, Milene trouxe uma proposta mais “informal” para a Piri Confeitaria.

“A gente traz frases mais engraçadas, irônicas e até memes na decoração. O público gostou muito e se tornou uma mercadoria muito ‘postável’: praticamente toda encomenda que fazemos é postada nas redes sociais depois”, relata.

Milene Oliveira ainda aconselha os empresários a manterem “a mente aberta para novas coisas. Se adaptar e analisar o novo cenário e, a partir disso, arrumar boas soluções”. A confeiteira revela que “nem tudo deu certo com a gente na primeira vez. É preciso insistir naquilo que realmente faz sentido”.

Receio de retomar

O chefe de cozinha Sérgio Quintiliano, entretanto, não teve a mesma “sorte”. Ele conta que a quarentena foi um período traumático e tenebroso para o negócio dele, o restaurante C’est si Bon.

“Eu não sabia quanto tempo teria de fechar o restaurante. Eu imaginava que seria um período pequeno, então foi algo que desestabilizou a empresa”, relata.

Sérgio afirma que o faturamento do negócio caiu 95%. Apesar de tentar negociar com fornecedores e proprietários do imóveis onde ficam as lojas, ele não conseguiu manter todas as contas do restaurante.

“Eu não tinha condição de ficar com todas as lojas, então decidi vender tudo que utilizava no restaurante, como mesas, cadeiras e talheres, e adaptar toda a operação para um único ambiente: a cozinha que funcionava no subsolo”, relata.

O chefe afirma que a transição para ficar somente com o sistema de entrega não foi complicado, uma vez que a empresa já disponibilizava o serviço antes da pandemia.

Hoje, ele revela que não tem a intenção de voltar com o negócio na mesma dimensão que estava antes da pandemia. “O processo de me recompor permitiu que eu enxergasse uma retomada do restaurante, mesmo que a longo prazo. Entretanto, não quero voltar a expandir como estava”, diz.

Sérgio avalia que o fechamento do comércio era necessário, mas diz que o governo deveria ter proporcionado um apoio maior e mais imediato aos empresários e seus funcionários.

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