Pedagoga explica que ensino bilíngue vai além de aprender outra língua
Neurocientista em educação diz que ensino bilíngue proporciona imersão não só no idioma, mas na cultura da segunda língua estudada
atualizado
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Dominar uma língua estrangeira é um facilitador para a vida profissional. Para a especialista consultada pelo Metrópoles, além dessa vantagem, o aprendizado do idioma vem também acompanhado de conhecimento sobre outra cultura.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), no último ano houve aumento de 64% na procura por modelos de ensino bilíngue, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Mas, afinal, como é a metodologia desse ensino tão procurado por pais que desejam ver seus filhos alfabetizados em outro idioma?
O ensino bilíngue consiste em uma metodologia em que são apresentados os conteúdos curriculares em duas línguas, geralmente a língua materna e uma outra, que pode ser o inglês, por exemplo.
Gabriela Broteiro, pedagoga com especialidade na área de neurociência em educação, explica que é preciso primeiramente entender que a língua não é só um meio de comunicação, ela traz consigo uma cultura e novos conhecimentos.
“Existem muitas pesquisas que falam até sobre como a nossa personalidade muda a cada idioma que a gente fala, por conta do conhecimento e da cultura que ele traz. A língua é muito mais que linguagem e forma de comunicação, é um ato social e cultural.”
Quando se fala na aprendizagem e na facilidade das crianças de aprender um novo idioma, Gabriela explica que antes acreditava-se que a neuroplasticidade, capacidade que o cérebro tem de aprender e se reprogramar, ocorria de maneira motora do zero aos 10 meses e que só tinha uma janela de oportunidade para aprender na primeira e segunda infância, dos zero aos 6 anos.
“Hoje, não é mais assim que a gente fala sobre neuroplasticidade na neurociência. As pesquisas falam que a neuroplasticidade está agindo o tempo todo. Ou seja, todos nós temos a capacidade de aprender línguas novas mesmo quando adultos. No entanto, para as crianças, existe a chamada janela de oportunidade, que acontece mais ou menos dos 2 aos 6 anos, então isso quer dizer que as crianças são esponjas, absorvem melhor o aprendizado.”, explica a neurocientista.
Ela inclusive salienta que o método de imersão que é apresentado nas escolas bilíngues facilita muito mais o aprendizado da criança do que uma aula específica dedicado ao idioma. “Por isso, a importância de pesquisar sobre a escola e saber se ela realmente segue a imersão em inglês ou se apenas dedica um momento do dia para aprender inglês.”
A pedagoga neurocientista também explica que aprendizado e aquisição são dois processos neurais diferentes no cérebro. Tem criança que vai aprender o inglês, mas isso não significa que ela vai adquirir essa língua como uma algo natural e orgânico na vida dela.
“É um mito que a gente não aprende, eu acho que existem crianças que não se adaptam à língua por outras questões como conexão com a professora, escola, lugar, ou também existe muito o lado familiar. Os alunos, querendo ou não, são uma extensão da casa e da escola. É preciso confiar e acreditar no processo para que a criança também entenda, com leveza, que o propósito é maior e que ela é capaz de aprender.”
Samantha Shimazu escolheu colocar os dois filhos, Lucas e Miguel, de 8 e 6 anos, em uma escola bilíngue e levou em consideração que a imersão facilitaria o aprendizado na infância.
“Nós optamos pelo ensino bilíngue e escolhemos o inglês, pela importância para toda a vida de aprender o idioma, aliada à facilidade do aprendizado ainda na infância. Além disso, para nós, tão importante quanto aprender o inglês é a oportunidade de conhecer uma cultura diferente da nossa.”
A principal diferença que ela notou nos filhos foi o desenvolvimento de habilidades, como a comunicação e o pensamento crítico, sendo usadas nas duas línguas em situações do cotidiano.