PEC da Anistia: base tenta ampliar recursos eleitorais para negros
Expectativa é de que, após adiamentos, PEC da Anistia seja aprovada em comissão especial e siga para o plenário ainda nesta quarta
atualizado
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A Câmara dos Deputados volta a analisar, nesta quarta-feira (27/9), o texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) 9/23, a PEC da Anistia. O texto deve ser votado em uma comissão especial após três adiamentos consecutivos.
A apreciação do texto estava prevista para terça-feira (26/9), mas foi adiada após apelo da base governista. Nomes como Guilherme Boulos (PSol-SP) e Jilmar Tatto (PT-SP) pediram, ao relator, Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), mais tempo para analisar a PEC.
O PT tenta dialogar com o relator para ampliar a porcentagem da destinação de recursos para candidatos negros nos partidos. O texto atual prevê mínimo de 20%, mas a sigla propõe ao menos 30%.
“Nós da bancada do PT temos alguns destaques, inclusive. Um dos destaques é o mínimo de 30% para os negros. Que nós pudéssemos não encerrar hoje a discussão, deixar marcada para amanhã, para que pudéssemos conversar com o relator, ver se ele acata alguns destaques que nós mesmos fizemos, da bancada do PT, para aperfeiçoar o texto em relação a essa PEC 9”, disse Jilmar Tatto na terça.
A expectativa de deputados ouvidos pelo Metrópoles é de que o texto seja aprovado na comissão e siga para o plenário ainda nesta quarta. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já sinalizou que deve pautar a matéria assim que aprovada pela comissão especial.
A pressa dos parlamentares é para que as regras propostas no texto entrem em vigor nas eleições municipais de 2024, já que um dos trechos da PEC prevê a reserva de vagas para mulheres nas Assembleias e Câmaras Legislativas.
Para que isso ocorra no próximo pleito, a PEC precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado e promulgada até 6 de outubro — data que marca um ano de antecedência das eleições municipais.
Críticas
O texto da PEC tem sido alvo de críticas de diversas entidades do direito eleitoral e de organizações do movimento negro. Durante a sessão de terça-feira, membros do coletivo Educafro protestaram, com cartazes, contra a votação da PEC. “Quem tem medo de negros na política?”, questionaram os manifestantes.
Partidos políticos ligados à esquerda também têm criticado a matéria. Uma das parlamentares mais ativas na tentativa de obstrução da PEC é a deputada Fernanda Melchiona (PSol-RS).
Ela argumenta que o texto é uma “autoanistia” dos partidos que não cumpriram as cotas exigidas pela Justiça Eleitoral nas últimas eleições, e ressalta que o texto pode limitar ainda mais a participação de negros no Parlamento.
“É um retrocesso em um país que teve 1.650 pessoas eleitas em 2022 e só 39 mulheres negras. Um percentual de menos de 3% em uma proporção de 25% da população brasileira”, pontuou a deputada.
Texto alterado
Até a última semana, o parecer do relator determinava que as legendas deveriam repassar 20% das verbas para candidaturas negras. Para alguns parlamentares, no entanto, o texto não deixava claro de que forma os partidos deveriam reservar os recursos, e abria brecha para que a redação fosse interpretada como um teto de gastos.
Dessa forma, os partidos poderiam considerar os 20% como a porcentagem máxima de recursos para pretos e pardos, contrariando as determinações atuais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) — leia mais abaixo. Em um novo relatório, divulgado na segunda-feira (25/9), Rodrigues determinou que as siglas sejam obrigadas a repassar ao menos 20% dos recursos para candidaturas negras.
A regra atual estipulada pelo STF determina que a verba siga proporcionalmente o número de candidatos pretos e pardos que se candidataram pela legenda no ano eleitoral. Isso quer dizer que se um partido tiver 100 candidatos e 50 forem negros, por exemplo, ao menos 50% dos recursos deverão ser destinados aos postulantes pretos e pardos.
Na última semana, o relator já havia feito alterações com objetivo de suavizar as críticas ao texto. O deputado incluiu um artigo que assegura às mulheres o percentual de 20% de representação nas cadeiras da Câmara dos Deputados. Atualmente, 17% dos postos são ocupados por mulheres, segundo dados da Casa.
Para as eleições municipais, o relator propôs que 15% das cadeiras das Câmaras e Assembleias Legislativas sejam ocupadas por mulheres. O texto também prevê que os partidos que não atingirem os percentuais mínimos deverão substituir candidatos por postulantes do sexo feminino.
O que é a PEC da Anistia
A PEC da Anistia prevê o fim das sanções, multas e suspensão de verbas para partidos que não destinaram valores mínimos para negros e o acréscimo proporcional de ao menos 30% para campanhas de mulheres nas eleições de 2022.
O texto tem autoria de dezenas de deputados de uma série de partidos, como PL, PT, PSD, PSB, PP, Avante, MDB, Podemos, Republicanos, PV e outras siglas.
Além da anistia aos partidos que não cumpriram as cotas, a proposta também livra de punições os partidos que tiveram irregularidades nas prestações de contas antes da data de promulgação da PEC. De acordo com o texto, legendas multadas pela Justiça Eleitoral poderão pagar a sanção com recursos do Fundo Partidário, em valor limitado a 10% da verba recebida mensalmente por cada legenda.
Se aprovado na comissão especial, o texto poderá seguir diretamente para o plenário da Câmara dos Deputados, onde precisará de ao menos 308 votos favoráveis para ser aprovado. Depois, a PEC segue para análise do Senado Federal, cuja tramitação deverá ser iniciada após encaminhamento do presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG).