PCGO pede prisão de coronel que matou engenheiro com tiro no pescoço
Delegado considera que liberdade de militar aposentado é um risco para a integridade de familiares da vítima e testemunhas do crime
atualizado
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Goiânia – A Polícia Civil de Goiás pediu esta semana a prisão preventiva do coronel da reserva que matou um engenheiro com um tiro no pescoço. O crime foi na manhã de 16 de abril passado em uma rua de Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital goiana.
Para o delegado Rogério Bicalho, o coronel da reserva da Polícia Militar de Goiás (PMGO) Clovis de Sousa e Silva, de 62 anos, tem um comportamento agressivo. E, por ter porte de armas, a liberdade dele é um risco para a integridade física de familiares da vítima e testemunhas.
O inquérito que investiga a morte do engenheiro civil Erceli Miguel, de 49 anos, foi concluído nesta semana, um mês depois que o oficial assassinou o engenheiro. A investigação concluiu que Clovis planejou o crime, ameaçando a vítima e sua família, e depois executou o plano, sem dar chance de defesa para Erceli.
Segundo a apuração da Polícia Civil, Erceli era uma pessoa querida e respeitada na região da Vila Brasília, onde morava há anos. Ele deixou a esposa, com quem era casado há 16 anos, e dois filhos adolescentes.
Manhã do crime
Erceli desceu de casa a pé para comprar pão, quando se deparou com o coronel Clovis, vestido de preto e de boné. Era manhã de sábado. Imagens de câmeras de monitoramento mostraram que Clovis e Erceli conversaram durante três minutos na esquina.
Outra câmera mostra que o engenheiro voltava para casa e na frente do portão foi baleado no pescoço pelo coronel, a curta distância. Ele perdeu muito sangue e morreu rapidamente no local, após lesões em “vasos cervicais”, segundo perícia. O oficial aposentado deixou o local andando.
Veja o vídeo:
Clovis chegou a se apresentar na delegacia e confessou o crime, mas alegou que a vítima o teria empurrado e que na verdade queria atirar para cima, mas o tiro pegou no pescoço. As imagens das câmeras de monitoramento mostram outra realidade. Na verdade, foi o coronel que empurrou o engenheiro, que só tentou se desvencilhar para entrar em casa, antes de ser morto, segundo a Polícia Civil.
“Diferente do que (o coronel) narrou em seu interrogatório, não houve agressão física por parte da vítima em Clovis, e este, saca a arma e aponta diretamente para o rosto de Erceli, não para cima como dito em sua narrativa”, escreveu o delegado Rogério Bicalho no relatório policial.
Ameaça
Antes do crime, o engenheiro construiu uma casa para o coronel, que ficou insatisfeito com o resultado porque teria “defeitos estruturais”. Já a família da vítima alega que o oficial aposentado “passou a ver defeitos exagerados na obra” e “exigia produtos caros na obra, mesmo não sendo o combinado”. O caso foi parar na Justiça.
Enquanto isso, o coronel Clovis ameaçou o engenheiro e sua família, de acordo com as investigações. Isso ficou demonstrado em áudios e mensagens do celular de Erceli, segundo a Polícia Civil.
O coronel chegou a mandar uma foto da vítima e sua esposa em uma loja de materiais de construção, “deixando a entender que Clovis estava seguindo Erceli”, concluiu a Polícia Civil. Na mesma ocasião, o engenheiro relatou para um amigo estar sendo ameaçado pelo coronel. O amigo alertou: “Esse cara é doido, Erceli toma cuidado, acho que você vai ter que fazer um BO (boletim de ocorrência)”.
Evangélico fervoroso, o engenheiro não fez o BO e disse em áudio na época que ia “pregar para Clovis”, pois “a Lei de Deus são duas coisas: ‘amar a Deus em primeiro lugar e amar o próximo como a si mesmo’”.
Arma e defesa
Em interrogatório, o coronel Clovis disse para a polícia que jogou a arma usada no crime em um matagal próximo do Terminal Padre Pelágio. Ele não explicou exatamente onde a arma estava e o objeto não foi localizado. A perícia não conseguiu precisar o calibre do projétil encontrado no corpo da vítima.
A defesa do militar aposentado defendeu que ele não deve ser preso, pois estaria ajudando nas investigações, tanto que teria se apresentado na delegacia dois dias depois do crime, mesmo estando com atestado médico por transtorno afetivo bipolar.
O atestado foi dado pela médica Laura Augusta Justino Borba no dia 17 de abril, um dia depois do coronel matar o engenheiro. A defesa do oficial também alegou que ele é medicado com Quetiapina e Carbolitium.
Advogado do coronel, Matheus Moreira Borges refutou o pedido de prisão nesta quinta-feira (19/5), um dia depois do delegado remeter o inquérito ao judiciário com o pedido da preventiva. A defesa alega que o coronel é um idoso de 63 anos e que o homicídio do engenheiro foi um “fato isolado na vida dele”.
Além disso, o advogado lembra que o oficial aposentado não tem nenhuma punição nos quase 30 anos que serviu a PMGO. Ele defendeu que o risco do coronel praticar outro delito é nulo. A prisão ou não do coronel depende de decisão da 4ª Vara Criminal da Comarca de Aparecida de Goiânia. A reportagem entrou em contato com Clovis e sua esposa, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
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